Rosemberg no teatro, Bethania em exposição

O próprio Luiz Rosemberg Filho tem repetido que as pessoas estão gostando mais de DOIS CASAMENTOS – A Peça do que do filme homônimo. Talvez a razão seja muito simples: embora escrito para o cinema, o texto tem uma inequívoca vocação teatral. Quando na tela, DOIS CASAMENTOS parecia teatro filmado. Carminha e Jandira, as duas noivas esquecidas à beira do altar, só tinham uma à outra para trocar suas impressões sobre o casamento, o sonho burguês e a expectativa do futuro. Encontravam uma na outra a alternativa à mediocridade do senso comum. Eram só elas contra um fundo negro sem fim, como um palco a que faltassem as paredes. No mezzanino do Sesc Copacabana, as paredes estão lá, Não apenas delimitam o espaço, como também servem de suporte para diversas ações das atrizes. Acima de tudo, Patricia Niedermeier e Ana Abbott estão ali, respirando e suando perto de nós – e sua angústia diante do vazio se faz mais carnal, menos abstrata. A presença dos corpos confere massa às palavras, e o resultado é que, embora o texto seja rigorosamente o mesmo, a peça soa um pouco menos doutrinária e loquaz que o filme. DOIS CASAMENTOS está em cena somente até este domingo, no horário das 20h.


A exposição MARIA DE TODOS NÓS, em cartaz no Paço Imperial, não é uma simples exposição sobre Maria Bethania. A ideia levada a cabo por Bia Lessa foi dispor nas várias salas do Paço, e já a partir das calçadas do entorno, um caudal de referências à galáxia Bethania. Assim, temos não apenas imagens e sons da cantora, mas também a iconografia do candomblé, das águas, dos rendados, dos quitutes e do casario baianos, da poesia, do carcará, das luzes miúdas e dos gestos imensos que associamos a ela. São pinturas, fotos, esculturas, móveis, roupas, vídeos, instalações e instala-sons. Em vez da ordem e do didatismo, temos a surpresa a cada espaço, a impressão de uma caminhada em terra ao mesmo tempo conhecida e desconhecida, inebriados pelo aroma que emana das muralhas de feno e alfafa. Uma força estranha no ar.

Deixe um comentário