I ♥ Festival do Rio

Hoje termina a repescagem do Festival do Rio. É hora de refletir um pouco sobre a importância desse evento para a cinefilia no Rio de Janeiro. Faço isso inspirado sobretudo pelo artigo de Luiz Zanin Oricchio no seu blog a respeito da Mostra de São Paulo, onde as reclamações do público e dos cineastas têm chegado a um nível recorde.

Aqui no Rio também foi assim. Presenciei alguns micos muito sérios e soube de outros tantos pelas conversas ao vivo e nas redes sociais. A projeção digital trouxe uma imponderabilidade muito grande, mesmo quando os testes parecem indicar que tudo vai bem. Configurações não batem, cabos desaparecem, legendas não correspondem à versão do filme que está sendo exibida. Perdeu-se o padrão mais ou menos uniforme da exibição em película. Em compensação, é bom lembrar que no digital não temos mais aqueles terríveis gritos de “olha o foco!!!” nem o tráfego carga-pesada de latas, com o pesadelo da alfândega no meio do caminho.

É claro que muito precisa ser melhorado e repensado nesse capítulo técnico, assim como os monitores do festival devem estar presentes e aptos a “apagar incêndios” na relação com a plateia, quando necessário. Mas, como diz o Zanin, precisamos ser menos consumidores e mais cidadãos. Não é fácil montar uma efeméride como o Festival do Rio, oferecendo quase 500 filmes em 34 salas espalhadas pela cidade e atendendo a um público que não está disposto a perdoar a menor falha. Entendo as queixas pontuais, mas não algumas críticas indiscriminadas ao festival, como se ele fosse o maior inimigo dos espectadores cariocas.

De minha parte, só tenho a agradecer a Ilda Santiago e sua equipe pelos dias de júbilo cinéfilo de que desfrutei. Desde o início das cabines de imprensa, a 1º de outubro, vi 42 filmes, contando só os longas-metragens. Alguns me deram momentos de imensa satisfação, como O Cavalo de Turim, A Separação, O Moinho e a Cruz, Tablóide e o George Harrison do Scorsese. Onde mais eu teria a chance de vê-los em tela grande e bom som, a não ser numa eventual mostra no CCBB (onde a tela não é tão grande assim)? Citaria também Sudoeste, A Longa Viagem e Os Últimos Cangaceiros, mas os brasileiros não são minha prioridade no festival. Prefiro ver aqueles que têm menos chance de reaparecer por aqui. Como costumo brincar, no festival só vejo filmes de países que comecem com U a Z.

Gostei do ambiente no Pavilhão do Festival, apesar de admitir que a região do cais do porto (ainda) é de acesso e estacionamento complicados. Mas ocupar aquela área é parte do processo da Prefeitura no sentido de reconquistá-la para a cultura da cidade. Não dá pra ser contra. O debate de que participei foi bem organizado e bem prestigiado pelo público. A visão bem próxima do mar era um refresco para a correria das exibições.

Precisamos ser maiores que nossas insatisfações e reconhecer o empenho dessa gente em nos brindar com um festival de peso e variado. Para o ano que vem, sugiro confeccionar camisetas “I ♥ Festival do Rio”. Eu entraria na fila para comprar.

8 comentários sobre “I ♥ Festival do Rio

  1. Muito legal o artigo Carlinhos – de mais uma que se esmera para realisar o festival… acho que muitas vezes, ao ver a imensa estrutura montada, a quantidade de assistentes e voluntários vestindo a camiseta, o público não tem noção de como é pequena a equipe que planeja aquilo tudo, que luta para trazer filmes e convidados ao festival ou de quantas noites quase sem dormir isso tudo leva. As vezes me dá a sensação que na ânsia das pessoas em ver o máximo numero possível de filmes, a delicadeza sai pela janela. É brutal quando vem um convidado de longe, tem pessoas interessadas em ouvir a história dele e outras urrando como se fosse numa partida de Flamengo porquê atrasou a sessão em alguns minutos.
    Como você comentou a nossa aventura pelo digital esta cheia de obstáculos. Todas as pessoas que investem e tentam sustentar o circuito do dito cinema de arte no Brasil estão sendo sujeitas a isso nesse momento. Não adianta sair procurando culpados, é preciso muito mais buscar soluções porquê muito em breve não terá mais projeções em película e quem trabalha com isso precisa encontrar uma solução viável e dentro das possibilidades financeiras de um mercado muitas veses complicado e cheio de riscos – tanto as salas, quanto os produtores, quanto os festivais.
    Esse ano no setor de Fronteiras/Dox, trouxemos entre outros, o primeiro diretor de Ruanda a realisar um longa metragem (Kivu Ruhorahosa com Massa Cinzenta), uma documentarista e produtora da TV da Quenia (Jane Murago-Munene com Espirito Incansável), o produtor do primeiro coletivo negro de cinema no Reino Unido, o Black Audio fundado em 1981, (David Lawson hoje de Smoking Dogs), a diretora de um documentário absolutamente original sobre a questão palestina (a italiana Giulia Amati de Essa é Minha Terra Hebron)…. issosem falar dosmuitos outros convidados que vem ao festival com a unica intenção de compartilhar a obra, a visão deles com o público carioca…..é cinema, é festival – uma oportunidade única de ter uma visão privilegiada de outras realidades… a arte e a cultura só funcionam com uma certa generosidade …

    em tempo: de 1-13 de novembro no Rio e de 3-14 de novembro em SP, nossa moatra: A Tela Negra: O Cinema de Blaxploitation no CCBB. e ainda de 18-24 novembro no Cinesesc São Paulo

  2. Bonito texto, Carlinhos. O público carioca tem que se deixar conquistar pelo ambiente de festival que toma conta dos cinemas, onde o imprevisto e o improviso têm espaço, mas que pode revelar gratas surpresas e experiências muito mais bacanas do que as planejadas com antecedência.

  3. Obrigada por esse texto, Carlinhos. Não sou diretora, mas faço parte do time de pessoas que se esmera em realizar um bom Festival. E te asseguro que fazemos com gosto! Dá muita alegria esse reconhecimento, vou compartilhar com meus amigos. beijos!

  4. Concordo plenamente com você! Eu consegui ver meros 14 filmes, driblando a rotina do trabalho e também tive momentos incríveis. Até a surpresa de um filme com o pessoal gritando “cadê o foco”, mas foi resolvido. Meu objetivo pro ano que vem é conseguir ver ainda mais e participar ainda mais, de preferência com a turma da imprensa, se rolar um freela. Vejo o pessoal aqui do Rio reclamando, quando só agradeço. Salvador de uns tempos pra cá apenas começou a entrar no circuito de festivais com uma Mostra (sem falar, claro da Jornada) e ter a oportunidade de escolher o que assistir aqui entre 350 filmes é um presente pra qualquer cinéfilo. Estou na fila da camisa!

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