Réquiem para o Palácio Monroe

Dos tantos filmes que vi, realizados no marco dos 450 anos do Rio, CRÔNICA DA DEMOLIÇÃO é o mais bem resolvido no tratamento do seu tema. A partir do dado prosaico sobre o destino dos leões que guarneciam a fachada do Palácio Monroe, Eduardo Ades refaz a história da construção e da demolição do prédio, usando-o como mote para um debate sobre os modelos de modernização urbana adotados no Rio ao longo do século XX.

O assunto é objeto de comentários principalmente de arquitetos e urbanistas, sempre à luz da pergunta: por que se pôs abaixo aquela joia da arquitetura eclética? As respostas apontam geralmente para a sanha renovadora dos modernistas. À frente, Lúcio Costa, para quem o Monroe não tinha valor arquitetônico – um monstrengo, um trambolho, segundo seus críticos.

Mas o filme descortina também as ligações entre o governo militar, os construtores do metrô, a campanha do jornal O Globo e os interesses da especulação imobiliária, que se uniram, sob a bandeira do progresso, para decretar, em lugar do tombamento, a demolição.

Esse documentário é um pequeno curso de crítica de arquitetura e ao mesmo tempo um passeio deslumbrante pela história do Rio moderno. Com uma primorosa pesquisa iconográfica de Remier Lion, tomadas grandiosas da cidade atual e trilha sonora de Philip Glass e Villa-Lobos, o documentário deleita olhos e ouvidos. Mas sua maior virtude está na estruturação da crônica, na interação ora patente, ora sutil das imagens com as ideias que vão sendo desenvolvidas. Um filme em que cada cena ganha status de revelação e emoção histórica.

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