Luto e sensualidade

VERGEL

Articular sensualidade e luto foi o desafio da diretora argentina Kris Niklison ao fazer VERGEL. Nessa coprodução Brasil-Argentina, Camila Morgado interpreta uma turista brasileira cujo marido acaba de morrer durante as férias do casal em Buenos Aires. Enquanto espera pelos trâmites burocráticos para trasladar o corpo ao Brasil, ela se entrega à depressão.

Num apartamento emprestado, cuja varanda mais parece uma pequena floresta (o vergel do título), ela observa os edifícios vizinhos, vê televisão, fala ao telefone, tem flashes de lembrança do marido e se molha em circunstâncias diversas. Por alguma estranha razão, está frequentemente em posições sensuais, o que logo será notado pela vizinha de baixo, toda faceira, encarregada de molhar as plantas da tal varanda. A relação entre as duas avança até criar um interlúdio gozoso e choroso no baixo astral da viúva.

Kris Niklison é uma artista performática, coreógrafa e diretora de teatro que eventualmente se aventura no cinema. VERGEL imprime essa marca no trabalho de corpo das duas atrizes, especialmente no de Camila, a quem cabe exprimir muito através do silêncio. Closes intensos e movimentos sedutores de câmera no espaço exíguo do apartamento (que o filme só abandona na última cena) buscam uma visualidade erótica, mas que não deixa de ter também um acento publicitário. Muitas vezes, tem-se a impressão de que a diretora contenta-se em compor belos quadros, embora vazios.

Um filme quase exótico em sua indefinição entre o drama psicológico e a performance corporal. Arrigo Barnabé fez a trilha ligeiramente excêntrica e Maria Alice Vergueiro emprestou a voz aos telefonemas da mãe da moça. Nos créditos finais, destaca-se o elenco de plantas que povoam a possível metáfora central: é sempre preciso regar a vida com alguma alegria. Anotem nos seus caderninhos.

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