Fantasmas do passado

DE PAI PARA FILHO

Roteirista experiente em cinema e televisão, Paulo Halm explora alguns tropos clássicos em De Pai para Filho. A começar pela ausência do pai, que ecoa duplamente no filme. Tudo parte da relação difícil entre um pai e um filho separados desde quase sempre. A contingência aqui é que o pai (Marco Ricca), um roqueiro dos anos 1980 que envelheceu solitário, acabara de morrer em circunstâncias peculiares. O filho, José (Juan Paiva), deixa sua loja de ferragens em Araraquara (SP) para cuidar das cinzas, do apartamento e do espírito do pai no Rio.

Outro motivo dramatúrgico bastante comum é o romance de formação de José a partir de seus encontros com uma vizinha do pai, Dina (Miá Mello). Ela tem uma filha adorável (Valentina Vieira, ótima revelação) que, naturalmente, bancará o cupido. Com isso anuncia-se o tema da segunda chance no amor, já que Dina tem uma história traumática no passado que a faz perder o juízo em muitos momentos.

Nesses ingredientes, Paulo Halm procura inserir uma dinâmica que contemple pautas edificantes, como os romances interraciais e as relações intergeracionais. Os comportamentos na atualidade já estariam em contraste com os da década de 1980, representada pelo roqueiro de vida egoísta e inconsequente. Os tempos de hoje seriam de compromisso e conciliação.

Halm tem intimidade com a dramaturgia da classe média carioca e com as potencialidades da mistura entre drama e comédia. No entanto, é forçoso admitir que a receita aqui não foi tão bem sucedida. As situações soam quase sempre forçadas, como os encontros num elevador que certamente é o mais lento do Rio de Janeiro. Com frequência os personagens têm suas características exacerbadas, sejam a timidez e a perplexidade permanentes de José, sejam os destemperos de Dina. As duas mortes abordadas no filme são mal explicadas e mal encenadas. Há, ainda, a figura recorrente do porteiro supostamente simpático, que se mete na vida dos moradores para transformar tudo em comédia.

De Pai para Filho quer ser um feel good movie para espantar os fantasmas do passado ou, quem sabe, buscar a ajuda deles. Faltou, contudo, o grão de inspiração que resgataria o filme do seu esquema trivial.

>> De Pai para Filho está nos cinemas.

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