BERNADETTE
Não se sabe ao certo o que é fato e o que é ficção em Bernadette, mas com certeza é um divertimento irreverente. Catherine Deneuve, que já viveu papel semelhante em Potiche – Esposa-troféu, de François Ozon, agora com a postura durona que adquiriu na terceira idade é a escolha perfeita para viver Bernadette Chirac nos anos de 1995 a 2007, quando foi a Primeira-Dama da França. De família aristocrática e perfil conservador, ela seria a parceira ideal de Jacques Chirac se ele não fosse um porco machista e vaidoso que só a queria como esposa-bibelô. Ou pelo menos é assim que o filme o caracteriza na pele do ator Michel Vuillermoz. Numa cena, o presidente da França chega a ser visto de bunda de fora.
Cansada de ser excluída, reprimida e reduzida a funções domésticas, além de traída pelo marido, ela aceita a assessoria de um coach cafona (Denis Podalydès) para mudar a imagem e as atitudes. Seguiria o exemplo de Lady Di, mesmo sem abandonar totalmente os figurinos extravagantes de Karl Lagerfeld. Seu papel político e conjugal haveria de ser repaginado.
É assim que o filme de Léa Domenach alcança um status de comédia política ligeiramente ácida, enfocando as saias justas da direita francesa numa época em que, como hoje, sua maior ameaça não era a esquerda, mas a extrema-direita. Entre Chirac e Sarkozy, a França só podia aspirar a evitar o abismo mais profundo.
Bernadette não é exatamente uma personagem cativante, nem se candidata a ícone feminista. É alguém que usou o humanitarismo como propaganda política e foi acusada de cumplicidade em corrupção. No âmbito pessoal, representa somente um desejo de revanche e afirmação. Ainda assim, Bernadette tem lá sua graça, justamente por satirizar aquele espectro político. E as intervenções de um coro narrador fazem o Palácio Eliseu ficar ainda mais mergulhado na chacota.
>> Bernadette está nos cinemas.

