Um filme que realmente “viajou”

MÁQUINA DO TEMPO

Ambição é coisa que não se pode negar ao cineasta irlandês Andrew Legge. Seu longa de estreia propõe uma realidade paralela em que os ingleses lutaram sozinhos contra os alemães na II Guerra e foram derrotados. Hitler e os camisas negras britânicos se juntaram para lançar o país no fascismo. Por trás dessa tragédia estariam duas irmãs cientistas que criaram, em 1941, uma máquina capaz de antecipar a televisão e captar transmissões do futuro.

Lola é a máquina e também o título original de Máquina do Tempo. Em sua tela redonda, Thomasina (Emma Appleton) e Martha (Stefanie Martini) eram capazes de curtir David Bowie e Bob Dylan três décadas antes de eles comporem suas primeiras canções. Para colaborar no esforço de guerra, elas passam a anunciar futuros ataques dos nazistas e com isso colocar a Inglaterra em vantagem.

Nesse ponto, entra em cena o clássico argumento da invenção criada para o Bem que acaba sendo usada para o Mal. Evito mais spoilers parando por aqui, se bem que essa pseudo-história evolui para algo tão estapafúrdio que não valeria mesmo a pena adiantar. A barafunda de enunciações, envolvendo narração e filmagens domésticas de Martha, filme-dentro-do-filme e arquivos de época – muitos deles adulterados à moda de Zelig – me deixou mais zonzo do que interessado.

O filme foi apreciado pela crítica europeia não tanto pelo seus disparates ficcionais, mas por uma suposta audácia na confecção formal. O material foi filmado em 16mm com câmeras vintage e submetido a um tratamento de granulação extrema e alto contraste. Para sugerir filmagens de 1941 encontradas em 2021, as imagens são trepidantes, borradas, desenquadradas e montadas aos borbotões.

Hitler passeando triunfante por Piccadily Circus ou as irmãs transformando You Really Got Me em hit 20 anos antes da banda The Kinks são exemplos de como Andrew Legge conseguiu impressionar os admiradores desse tipo de ousadia. Sirva-se quem quiser.

>> Máquina do Tempo está nos cinemas.

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