A PROCURA DE MARTINA
O vírus do esquecimento pode se apresentar de várias maneiras. Pode ser pela Alzheimer, doença que está começando a afetar a protagonista de A Procura de Martina. Mas pode ser também pela perda da memória política, que vai deixando os horrores para trás na poeira do tempo. Nesta coprodução de Brasil e Argentina, Martina (Mercedes Morán) é uma das avós da Praça de Maio que procura há décadas por seu neto, sequestrado de sua filha na prisão da ditadura argentina. Quando recebe uma informação de que ele pode estar no Brasil, ela se arrisca numa viagem solitária e perigosa ao Rio de Janeiro.
O roteiro de Gabriela Amaral Almeida (A Sombra do Pai, Animal Cordial) e da diretora Márcia Faria trabalha o contraste entre a fragilidade de Martina e o ambiente hostil das quebradas da Zona Norte do Rio. O estrago só não é pior porque ela vai contar com a ajuda de uma abnegada – e um tanto mitômana – funcionária do hotel (Luciana Paes) e duas amigas ainda mais idosas que acorrem ao Rio para dissuadi-la da aventura ou, se não tiver outro jeito, ajudá-la.
Esse quarteto vive momentos hilariantes e ao mesmo tempo tensos na busca do rapaz, cujo destino fica apenas insinuado no filme. Adriana Aizemberg, no papel da loquaz Norma, rouba todas as cenas em que aparece.
À medida que a procura avança concretamente, deixando pistas quanto a um contexto de criminalidade, é curioso que o mote da Alzheimer se dissolva. É como se a expectativa do encontro anulasse boa parte dos sintomas de Martina. Quanto a estes, o filme sugere vez por outra a confusão mental com a montagem, chegando a um último ato em que memória e possível imaginação se mesclam. Ao fim e ao cabo, restam mais sugestões do que revelações. O que não é de todo mau, mas tampouco é de todo bom.
>> A Procura de Martina está nos cinemas.

