DREAMS
O escritor norueguês Dag Johan Haugerud alcançou o sucesso como cineasta com a trilogia Dreams/Sex/Love, queridinha da crítica internacional na temporada de 2024. São filmes de escritor, ou seja, baseados num texto quase ininterrupto oralizado pelos personagens. Love trata de relacionamentos heterossexuais, enquanto Sex e Dreams lida com romances homossexuais.
Ainda não vi os outros dois. Dreams foi premiado com o Urso de Ouro no Festival de Berlim. O assunto é a paixão de uma aluna de 16 anos por sua professora, mas é também um filme sobre o trânsito em duas mãos entre escrita e realidade. A leitura de um romance detona os sentimentos de Johanne (Ella Øverbye) por sua professora Johanna (Selome Emnetu), mulher mais velha e de pele negra – o que na Noruega pode ser considerado um fetiche.
Dreams é mais um filme sobre o que se diz a respeito da relação entre as duas do que sobre a própria relação. Johanne descreve sua convivência com a professora em um texto com detalhes que tanto podem ser reais, como pura imaginação. Nós ficamos à mercê do que o diretor vai nos deixar saber com certeza. O texto de Johanne poderá ser publicado em livro, assim alterando a percepção da autora a respeito do que viveu.
Intercalando o relato oral de Johanne com fragmentos de ação concreta, Haugerud nos brinda com um sensível retrato de paixão adolescente. As indecisões, a vergonha, o medo da rejeição estão em guerra com as urgências do despertar sexual e a necessidade de acolhimento. Independente do gênero em questão, é um processo com que qualquer um pode se identificar e compartilhar virtualmente. A intermediação da narrativa em primeira pessoa contribui para intensificar a experiência do espectador.
Os dilemas de Johanne vão se projetar, ainda, sobre sua mãe e sua avó, mulheres de gerações e vivências diferentes. A leitura dos escritos da menina terá efeitos distintos sobre o que cada uma pensa da própria vida. E na medida em que mãe e avó se apropriam do caso, agravam em Johanne a sensação de exclusão, pivô de sua carência.
Embora seja falado o tempo todo, Dreams se safa visualmente pela aptidão do elenco para filigranar as sutilezas dos diálogos. Ella Øverbye é um primor de sensibilidade nos olhares e nas inflexões da voz para exprimir os impasses de Johanne. No pano de fundo, uma Oslo geométrica e fria que parece ser elemento determinante na trilogia de Haugerud.
>> Dreams está nos cinemas.


Seu texto me deu vontade de parar tudo e ir correrndo assistir esse filme.
bjs
Bárbara Pacheco
Parei tudo só de saber que vc pensou em mim, rs