Quem é mais vulnerável?

PEDAÇO DE MIM

Há 20 anos Mona se divide entre o trabalho como depiladora e os cuidados com Joël, o filho com neurodivergência que praticamente não conheceu o pai. No momento em que ela resolve pensar um pouco mais em si mesma, inclusive arranjando um namorado, eis que Joël lhe apronta uma surpresa: sua namorada, também PcD, está grávida e ambos querem ter a criança.

A partir daí, o francês Pedaço de Mim (Mon Inséparable) desenvolve um pequeno e habilidoso estudo sobre maternidade, autonomia e formação de família. A diretora e roteirista Anne-Sophie Bailly demonstra muita sensibilidade no manejo das sutilezas e um bocado de coragem na caracterização de Mona, uma mãe que chega ao limite da capacidade de tolerância. A cena em que ela dispara afirmações politicamente incorretas sobre o filho tem o efeito dramático de uma catarse. A postura do jovem casal, por seu turno, é um testemunho de autodeterminação entre pessoas com deficiência no que diz respeito à gestão familiar. Induzidos ao aborto, eles reafirmam a decisão de ter o bebê.

Eis um filme que consegue ser extremamente humano sem romantizar seus pressupostos. Ninguém doura a pílula dos personagens, nem aponta saídas fáceis. Chega a ser interessante pensar quem é mais vulnerável, se os jovens com deficiência ou Mona, a “normal” em crise.

Para que tudo chegue a bom termo é fundamental o trabalho da direção com o elenco. Laure Calamy tem uma atuação digna de Oscar na montanha russa que são as emoções de Mona. Charles Peccia como Joël e Julie Froger como sua namorada Océane, ator e atriz neurodivergentes, estão perfeitos nos papéis, sob a coordenação especial de Margault Algudo-Brzostek. O rapaz foi o primeiro ator PcD a ser indicado ao Prêmio César. O filme ganhou vários prêmios paralelos no Festival de Veneza.

>> Pedaço de Mim está nos cinemas.

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