Jogo de xadrez com peças humanas

FILHOS

Copenhague tem sido eleita como “a cidade mais feliz do mundo”. Mas não é essa a realidade que vemos em Filhos (Vogter), filme ambientado quase inteiramente no interior de um presídio da capital dinamarquesa. Ali a guarda penitenciária Eva (Sidse Babett Knudsen) se desvela em vários níveis de serviços aos detentos, da alimentação a aulas de meditação. Sua integridade, porém, será abalada pela chegada de um presidiário que tem com ela uma dívida de sangue no passado.

O sóbrio drama de Gustav Möller, cortado a seco na habitual dureza do cinema dinamarquês, lida com o desejo de vingança. Eva pede para ser realocada na ala de segurança máxima e passa a se valer de sua autoridade para torturar Mikkel (Sebastian Bull). Se a crescente violência da revanche de Eva pretende questionar a ética do público, a mim isso não surtiu efeito. Pareceu-me claro desde o início que uma oficial como ela não poderia agir daquela maneira, a não ser impulsionada pelo ódio da desforra.

A imagem de Mikkel, corpo inteiramente tatuado e expressão sempre raivosa, é um tanto manipulativa no jogo dramático armado por Möller. Falta-nos também uma perspectiva mais sólida de quem é Eva na vida privada, ou de seus dilemas de consciência. Do jeito que está, tudo acaba se resumindo a uma espécie de jogo de xadrez com peças humanas.

No espelhamento de Eva com a mãe de Mikkel poderia surgir um elemento mais complexo, mas isso tampouco ganha desenvolvimento. O filme caminha, então, para rumos mais improváveis depois que Eva é, ela própria, ameaçada de prisão. O jogo de xadrez termina sem um xeque-mate à altura.

>> Filhos está nos cinemas.

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