Um mestre do conto ganha nova edição

Já está em pré-venda o primeiro volume dos Contos Reunidos do imenso escritor Victor Giudice (1934-1997). O Arquivo e Outras Histórias reúne os contos originalmente publicados nos livros Necrológio Os Banheiros. O talento de Giudice foi festejado por gente como Carlos Drummond de Andrade, Caio Fernando Abreu e Nelly Novaes Coelho.

A pré-compra pode ser feita no site da Editora Kotter.

Eu tive a honra e o prazer de ser convidado pela viúva Eneida Santos, organizadora do projeto, para escrever a orelha do novo livro, que reproduzo abaixo:

É como se o tempo não tivesse passado. Ou, o que é mais provável, Victor Giudice estivesse além do seu tempo quando escreveu os contos dos livros “Necrológio” e “Os Banheiros”, agora reunidos neste volume. Embora publicados pela primeira vez há 53 e 46 anos, respectivamente, exalam o frescor da contemporaneidade tanto no que dizem, como na forma como dizem.

Victor publicou dois romances e deixou um terceiro inacabado. Mas foi na narrativa curta que ele primeiro se consagrou como um dos grandes da literatura brasileira. O clássico conto “O Arquivo”, de repercussão internacional, começava já na capa de “Necrológio”. O autor parecia não se contentar com os cânones da publicação impressa. E assim explorava as possibilidades gráficas, os espaços e desvãos das páginas, bem como os surpreendentes neologismos que atiçavam o idioma.

As divertidas sugestões de oralidade presentes em Os Gueijos ou a intrigante narrativa de O Visitante, que termina numa vírgula, atestam que Victor foi um desbravador da linguagem. Por outro lado, suas histórias recheadas de mistério e charme, entre o cotidiano surrealista, as ironias sócio-políticas, a ficção científica e a urdidura policial, tornam a leitura uma fonte superior de prazer.

As hipocrisias e disfunções da sociedade brasileira transparecem em sua obra, a começar pelos contos desses dois primeiros livros. A crítica às formas opressivas de controle e às futilidades burguesas não vem com a magreza do realismo banal, mas sim filtrada por uma trama sofisticada de referências à cultura universal e à esfera do fantástico.

Amante da música, do teatro, do cinema e da gastronomia, Victor Giudice soube recorrer às formas clássicas para subvertê-las, torcê-las e, em última análise, rompê-las. Sua ousadia, ao contrário, permanece intacta.

Quer saber mais sobre Victor Giudice? Visite o seu site oficial.

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