Luzes, Mulheres, Ação
Ideias sobre um feminismo à brasileira
Eunice Gutman é uma das cineastas (e ativistas) brasileiras mais identificadas com o feminismo. Entre seus documentários sobre temas sociais, realizados desde os anos 1970, o papel das mulheres é destaque frequente. Seu novo longa-metragem, coproduzido pela Cavídeo, pode ser visto como uma espécie de súmula de sua atuação nesse setor.
O título Luzes, Mulheres, Ação talvez sugira um filme sobre cinema feminino, mas não é isso. Eunice propõe uma breve cronologia das conquistas das mulheres desde a Revolução Francesa, passando pelas sufragistas do século XIX e até chegar à primeira geração de grandes feministas brasileiras. Trechos de filmes anteriores seus trazem testemunhos de guerreiras como Rose Marie Muraro, Romy Medeiros, Heloneida Studart, Moema Toscano, Benedita da Silva, Nélida Piñon e Heloísa Buarque de Hollanda. Para as gerações mais jovens, que eventualmente não a conhecem, é uma boa introdução a um grupo de mulheres que, influenciadas por Simone de Beauvoir, fundaram o Centro da Mulher Brasileira (1975), a primeira iniciativa organizada do gênero por aqui.
Elas falam de uma época em que rejeitar o casamento podia ser um marco de comportamento, e as leis obrigavam as mulheres a obterem autorização do marido para viajarem sozinhas. Heloneida contando como sua babá aprendeu e lhe ensinou a ler, ou Benedita explicando que sua conscientização veio na adolescência vivida nas ruas, são relatos que emocionam e denotam particularidades de um feminismo à brasileira.
Quando se volta para a atualidade, nos 25 minutos finais, o filme se fragiliza um pouco, deixando de criar um elo mais visível com o passado. O exemplo de uma comunidade matriarcal chinesa parece bastante curioso, mas não se expõe uma possível relação – se é que ela existe – com a realidade do resto do mundo. As imagens de passeatas recentes no Brasil e a abordagem de um feminismo negro emergente complementam esse histórico que vale, principalmente, pelo seu teor retrospectivo.