AS TRÊS VIDAS DE FRIEDA WOLFF
O que pode ligar a Universidade Humboldt de Berlim a uma ótica brasileira e a uma pesquisa sobre a comunidade judaica no Brasil? A resposta está na vida do casal Frieda e Egon Wolff. Eles deixaram a universidade berlinense em 1933 e rumaram para o Brasil em 1934, depois de testemunharem a ascensão do nazismo.
O período alemão foi a primeira d’As Três Vidas de Frieda Wolff, documentário de Pedro Gorski que está chegando aos cinemas. O filme se ampara numa entrevista concedida por Frieda em 2003, aos 92 anos (ela viria a morrer sete anos depois). Com vivacidade e carisma, ela rememora sua história com o marido, falecido em 1991.
Frieda conta que deixou Berlim apenas com uma mochila, mas certamente o casal tinha recursos bastantes para empreender a fuga que muitos judeus não conseguiram e pereceram nas mãos dos nazistas. No Brasil, passaram a importar óculos da Europa para a sua Egon Wolff Ótica e fizeram muitas viagens nesta que foi a segunda vida de Frieda.
A terceira começou quando se desfizeram do negócio e se dedicaram a pesquisar a genealogia de judeus que emigraram para o Brasil e tinham sua história desconhecida. A investigação era sui generis, pois partia dos dados constantes em lápides de cemitérios judaicos. Resultou em dezenas de livros sobre o assunto, fontes importantes de informações historiográficas.
Pedro Gorski complementa o material da entrevista de Frieda com alguns depoimentos de contextualização e, principalmente, os comentários do engenheiro Milton Weintraub, amigo dos Wolff e idealizador do documentário. Vemos flashes de sua pesquisa, na Alemanha e no Brasil, sobre a trajetória do casal.
Alheios à ortodoxia judaica, Frieda e Egon tinham, porém, um compromisso quase religioso com a pesquisa histórica em fontes primárias. As Três Vidas de Frieda Wolff transcende o mero interesse étnico e, apesar de sua modéstia formal, diz bastante sobre o amor pela pesquisa e um percurso singular no âmbito da imigração.
>> As Três Vidas de Frieda Wolff está nos cinemas.

