CAZUZA: BOAS NOVAS
Não ceder à caretice e à morte – eis o lema de Cazuza celebrado nesse documentário assinado por Nilo Romero, baixista que tocou com ele e dirigiu seu último show, e por Roberto Moret. Filmagens de bastidores e de apresentações dão conta da energia que Cazuza colocou na vida e no palco até o último momento. É o que também reforçam as participações de Leo Jaime, Roberto Frejat, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, George Israel e o fotógrafo Flavio Colker.
Cazuza: Boas Novas não é uma biografia, mas um retrato do artista quando frágil. E forte. Enfoca basicamente os dois últimos anos de sua vida, já abatido fisicamente pela Aids, mas disposto a não sair de cena e seguir cantando a vida. Era uma época em que ele passava por uma transfusão de sangue antes de sair para uma festa de casamento. Os derradeiros shows foram feitos na marra, contra o assédio da doença. Nas gravações do último disco, Burguesia, Cazuza cantava deitado, queimando em febre.
Embora tenha um aspecto de doc-brodagem, interessado mais nas lembranças afetivas que num desenho acabado, o filme tem seus momentos. As conversas de Nilo com Lucinha Araújo, por exemplo, têm centelhas de ternura. Arthur Dapieve dá bons toques sobre o lugar de Cazuza no espírito do seu tempo. Episódios como o impacto negativo de uma matéria sensacionalista da revista Veja sobre sua enfermidade, ou a polêmica levantada quando Cazuza cuspiu na bandeira brasileira durante um show, ajudam a situar aquele momento dos anos 1980 em que o sopro de liberdade pós-ditadura se chocava com o baixo astral da Aids.
Imagino o trabalho da montadora Jordana Berg para ordenar materiais tão dispersos, muitos deles com baixa qualidade, com vistas a criar uma narrativa minimamente coesa. Conseguiu, mesmo que a impressão de improvisação na origem do projeto permaneça.
>> Cazuza: Boas Novas está nos cinemas.

