Rejeito é um filme contundente e diferenciado na maneira como trata seu assunto. Depois dos desastres de Mariana e Brumadinho, Minas Gerais continua a ver novas barragens ameaçarem a vida das populações. Quando o filme foi concluído, eram 354 no estado.
Em fevereiro de 2019, os moradores do distrito de Socorro (município de Barão de Cocais) foram despertados no meio da noite com um alerta de rompimento de barragem da Vale do Rio Doce e tiveram que deixar suas casas imediatamente. Pouco depois, alguns deles tentaram voltar por uma trilha no mato e reocupar suas casas, mas foram novamente obrigados a sair sob ameaça policial. Suspeita-se que a Vale desalojava o local para facilitar a construção do Projeto Apolo de mineração.
Pedro de Filippis captura momentos cruciais dessa peleja sem lançar mão de cabeças falantes. Registra entrevistas e narrações de TV, além de audiências públicas, para descrever indiretamente a situação. Algumas cenas extraordinárias envolvem a brava ativista Maria Teresa Corujo. Numa, ela questiona severamente, aos prantos, uma apresentadora de TV que usa a entrevista com ela para destacar a defesa da Vale. Em outra, ela exige lugar na mesa de uma audiência, de onde profere uma firme defesa dos interesses dos habitantes em risco.
O filme documenta a situação de pânico permanente da população que vive à mercê das barragens de rejeitos. As simulações de rompimento (as “simuladas”) são feitas como uma espécie de teatro macabro, quando soam sirenes e as pessoas são instadas a se dirigirem por “rotas de fuga” até “pontos de encontro” e “zonas de salvamento”. Todos sabem, porém, que não estarão a salvo (e ainda assim muitos parecem se divertir…)
A última imagem do filme é uma metáfora assustadora da crueldade de que os mineiros são vítimas por parte das grandes empresas de mineração: um trator persegue dois cavalos por puro deleite.
2/10, quinta – 16:15 – Centro Cultural da Justiça Federal
10/10, sexta – 20:45 – Estação Net Botafogo 3

