OESTE OUTRA VEZ
As baladas românticas e gongóricas de Nelson Ned produzem um vivo contraste com a melancolia violenta dos machos em Oeste Outra Vez. Como nos velhos westerns, este é um filme sobre machos. A única mulher a dar o ar de sua graça é por poucos segundos, a maior parte deles de costas, indo embora. Ela é o pivô da rivalidade entre dois homens (Ângelo Antonio e Babu Santana) no poeirento interior de Goiás.
Outras histórias semelhantes virão à tona, sempre sobre homens que não conseguem preservar suas mulheres e, a partir daí, se voltam uns contra os outros. Seriam a versão rural do incel, mas cujo fracasso no amor não se volta contra as ex-companheiras, mas sim contra seus oponentes. Veem a mulher como posse que foi roubada, e não como alguém dotada de vontade própria.
Erico Rassi, que escreveu e dirigiu o filme, desfia em banho-maria uma trama relativamente intrincada, envolvendo encomendas de morte que se bifurcam e se desenrolam de maneira surpreendente. E o faz com um senso de atmosfera extraordinário, uma segurança absoluta na manutenção do tom crepuscular e do ritmo distendido. A figura intrigante de um velho pistoleiro (o cantor Rodger Rogério) traz à lembrança a performance derradeira de Nelson Xavier em Comeback, outro belo exercício de Erico Rassi no ramo do “goiestern” (acho que cunhei o termo agora).
Vencedor do Festival de Gramado, Oeste Outra Vez brinca com o título do clássico Era uma Vez no Oeste, mas é de uma originalidade absoluta em termos de cinema brasileiro. As opções da direção foram brilhantemente aplicadas pela fotografia de André Carvalheira, cujo sofisticado trabalho de câmera é essencial na criação de suspense. Os diálogos, nunca óbvios e às vezes tragicômicos, são interpretados por um elenco literalmente em ponto de bala, em que se destacam, ainda, Daniel Porpino, Adanilo e uma participação especialíssima de Antonio Pitanga. Mais um filme primoroso numa temporada de filmes brasileiros primorosos.
>> Oeste Outra Vez está nas plataformas AppleTV e ClaroTV+.

