O amor dentro e fora da tela

Young-he, a personagem central de NA PRAIA À NOITE SOZINHA, é uma atriz em crise pessoal por conta do caso que mantém com um diretor de cinema casado. Ela visita uma amiga em Hamburgo e outros tantos na volta para a Coreia do Sul enquanto tenta clarear o cenário à sua volta. A ponto de desistir do amor, ela só faz questão de “morrer graciosamente”.

O argumento do filme é uma versão ficcional do affair do diretor Hong Sang-soo e da atriz Kim Min-hee, que vive Young-he. O romance começou nas filmagens de Certo Agora, Errado Antes e resultou na separação conjugal do cineasta e em muitas páginas de tabloides. NA PRAIA… se oferece, portanto, como um psicodrama da relação. Numa cena, Young-he desenha o rosto do amante na areia da praia e comenta que ele não é exatamente assim, mas é bem parecido. No grande momento culminante, atores representam o diretor e sua mulher num virulento acerto de contas com a atriz-amante. É uma daquelas sequências de saia justa à mesa do restaurante que nutrem a reputação de Sang-soo, levando ao extremo sua característica identificação entre cinema e vida.

Este filme não tem a fluência e as simetrias narrativas habituais em seus trabalhos recentes. O primeiro ato, na Alemanha, é narrado de modo esdrúxulo e desconexo. No segundo, algumas conversas falham em produzir as centelhas que sempre esperamos a cada vez que seus personagens começam a beber, fumar, comer e trocar impressões mútuas. Saí com a impressão de que há mais ressonâncias pessoais que material de interesse do público.

Ainda assim, não faltam momentos brilhantes, sobretudo pela insuperável maestria da direção de atores em longos planos-sequência de conversações complexas, de rumos imprevisíveis, e estados de espírito em montanha-russa. As típicas repetições de falas e situações ocorrem eventualmente, mas nunca há redundância. Um quinteto de Schubert lança acordes melancólicos sobre essa que é uma das obras mais sombrias do mestre coreano.

O filme é dividido em dois atos. No final de cada um, Young-he está sozinha numa praia quando algo de extraordinário lhe acontece. Ou poderia ter acontecido, se considerarmos as esferas do sonho e do nonsense. Ao que eu saiba, duas novidades em sua filmografia aparecem aqui: um personagem misterioso e surrealista e um esboço de relação lésbica. De resto, é a mesma mescla de assuntos prosaicos, impasses amorosos e referências ao cinema que faz o charme indiscreto do cinema de Hong Sang-soo.

2 comentários sobre “O amor dentro e fora da tela

  1. onde assistir este filme? no Festival do Rio? sugiro incluir nos posts que vc posta onde os filmes comentados estão sendo exibidos ou disponíveis. abs

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