LUTA DE CLASSES
Reflexo da importância da educação na cultura francesa, o cinema deles não se cansa de tematizar a escola e o ensino. LUTA DE CLASSES (La Lutte des Classes) brinca no título com a ambivalência da palavra “classe”. O roteiro, bastante esperto até descambar para clichês conciliadores no ato final, trata da confusão entre ideologia e prática de um casal branco de esquerda no trato com a educação do filho em escola pública frequentada por negros, árabes e orientais. Recusando-se a colocar o menino numa escola particular, Paul e Sofia (ela de origem árabe) têm dificuldade em vivenciar os valores de tolerância e liberdade que defendem com palavras.
Apesar do humor crítico quanto à inadequação de métodos (prestar solidariedade a refugiados com uma apresentação de punk rock, por exemplo) e da sátira aos excessos da correção política (a professora com seus eufemismos hilariantes), o diretor e corroteirista Michel Leclerc não deixa de ser simpático a seus protagonistas. O foco do filme está nas contradições, na ansiedade e nos equívocos que se comete quando as boas intenções ficam acima das boas atitudes.
A integração ou a não integração do pequeno Coco com seus colegas “diferentes” traz à tona uma série de questões. Há o bullying contra o “branco rico”, os dilemas entre misturar-se com os demais e preservar a liberdade, o conservadorismo muçulmano a se chocar com o progressismo vacilante do casal. Um abismo se estabelece entre a casa e a escola, como bem simboliza a cena em que Paul e Sofia se aproximam da instituição e têm o portão fechado em suas caras.
Entre gags divertidas, situações desconcertantes e bons diálogos, o filme me agradou muito até a sua meia-hora final, quando se perde em soluções fáceis e simplificações inconvincentes. Ainda assim, vale a pena conhecer aquela gente, nem que seja por dois momentos especiais: o estratagema inventado para levar as crianças ao cinema e uma sequência impagável que me pareceu uma variação da célebre passeata involuntariamente liderada por Chaplin em Tempos Modernos.