É Tudo Verdade – Os 57 minutos de Tonia e seus Filhos se passam em torno de uma mesa. Pela iluminação e a gravidade das fisionomias, poderia ser uma mesa espírita. Diante do diretor Marcel Lozinski, dois irmãos confrontam-se com as memórias de sua mãe nos anos 1940, quando ela esteve presa por suposta colaboração com espiões americanos na Polônia. Não há espíritos, logicamente, mas fantasmas documentais que nos chegam através da leitura de cartas, relatórios de confissão e de tortura, além de umas poucas fotos e trechos de um filme inacabado. Há uma tensão no ar, pois Marcel (o personagem tem o mesmo nome do cineasta) desconhecia boa parte do que ocorrera com sua mãe. Chega a duvidar de que certos escritos sejam mesmo dela. A irmã, ligeiramente mais velha, o poupara das piores partes, ou talvez escondera por razões que o filme aos poucos vai descortinar.
Esse psicodrama familiar se desenrola com total sobriedade, apesar de os closes revelarem um mundo de emoções e algumas lágrimas. Em certos momentos, a acareação dos irmãos sugere uma nova sessão de tortura psicológica. Se o filme ganhou a competição nacional do Festival de Cracóvia é porque tem um apelo especial para o público polonês e a história do país. Entre nós, parece excessivamente austero e um tanto cifrado. Mais que tudo, é o nome do mestre Lozinski que, a meu ver, justifica sua seleção.