Sobre DIVÓRCIO e AMOR, PARIS, CINEMA
DIVÓRCIO vem sendo cortejado por colegas críticos como uma comédia nacional superior à média. Se essa média tem subido ligeiramente em qualidade nos últimos três anos (vide Minha Mãe é uma Peça II, La Vingança, Entre Abelhas), ainda é bem baixa para que produtos apenas medianos ganhem destaque. Na verdade, a gente fica torcendo para que esta ou aquela pareça de fato uma boa comédia. DIVÓRCIO parece.
É bem produzida, a direção de Pedro Amorim tem ritmo, os atores estão muito bem e algumas gags são realmente engraçadas. Camila Morgado e Murilo Benício mostram uma química cômica invejável, enquanto os coadjuvantes têm material para não servirem de meras escadas para o par central.
Ainda assim, o filme não escapa de um certo padrão televisivo que se expressa não tanto mais no formato, mas no ideário em que se baseia. Não saímos do campo magnético do casal que se ama mas não consegue se entender e das disputas em torno de família, dinheiro e negócios. As maiores vítimas de destruição, por sinal, são carros, sapatos de luxo e ativos empresariais.
No fim das contas, DIVÓRCIO pode ficar na memória como uma sátira não muito ácida ao novorriquismo brega do interior paulista. Ribeirão Preto, com seu sotaque mordido, suas gírias e sua pequena mitologia (“dizem que tem onça em Ribeirão”), ganha uma comprometedora homenagem.
O humor autodepreciativo é um ingrediente que funciona quando bem usado. No velho Woody Allen, por exemplo. Do contrário, é apenas um disfarce para a vaidade. É isso que acontece com Arnaud Viard em AMOR, PARIS, CINEMA. Ele utiliza sua persona de ator de TV não muito conhecido no meio cinematográfico para uma comédia autoficcional que resulta num auto-elogio. Em 2004 ele se lançou à direção com o longa Clara et Moi, que teve recepção menos que morna na França. Onze anos depois, resolveu experimentar de novo e adotou um título metalinguístico: “Arnaud fait son 2e film” (Arnaud faz seu 2º filme).
Lá está o próprio Arnaud às voltas com esse novo projeto de filme, uma crise de potência sexual, a separação da mulher amada (Iréne Jacob, toujours belle) e a mãe enferma terminal. Para pagar as contas, dá aulas para jovens atores, entre os quais se destaca a ambiciosa Gabrielle (Louise Coldefy). Com ela, Arnaud vai testar o que ainda lhe resta de juventude.
Entre piadas autorreferentes, um desejo compulsivo de parecer agradável e muitas cenas de embromação (como o número de dança no curso ou a festinha dos alunos), o filme logo se mostra insosso e ultraconvencional. Salva-se a natural simpatia de Viard como único atrativo. O resto se perde rapidamente no ar como lança-perfume, para citar a canção de Rita Lee espargida nos créditos finais.