Não posso garantir, mas a ideia central de A GAROTA DO ARMÁRIO – olhar o mundo do trabalho corporativo do ponto de vista de uma criança – me pareceu original. Quem já trabalhou numa grande empresa bem sabe que fazer o que a gente não quer, conversar com quem a gente não gosta, curvar-se à burocracia e à hierarquia como regras de ouro e aturar o mal feito em nome do esprit de corps profissional são circunstâncias tão desagradáveis quanto os castigos que sofríamos quando pequenos.
Esse pequeno e despretensioso filme de Marc Fitoussi toca nos nervos da questão. Sem ser nem miniatura de adulta, nem exemplo de criança adorável, Anouk (Jeanne Jestin) representa a consciência que nasce junto com a inocência (“você é muito nova para saber certas coisas”). Com vistas à conclusão do ensino fundamental, ela precisa de um estágio. Vai passar uma semana na companhia de seguros onde trabalha sua mãe (Émilie Dequenne). É o tempo suficiente para descobrir o lado covarde da mãe e viver uma experiência de amadurecimento ao transgredir o caráter de observação do seu estágio.
No subtexto são perceptíveis elementos de contos de fadas, como duas bruxas de escritório, provas de humilhação e desorientação, bem como a oportunidade de uma aventura investigativa que (quase) a coloca na situação de heroína. Uma virtude a mais do roteiro, do próprio Fitoussi, é impedir que as expectativas-clichê se concretizem, investindo numa solução mais complexa e realista para o impasse entre mãe e filha.
Uma ideia simples e bem concebida, levada à tela sem qualquer afetação e sustentada por uma sutilíssima e adequada performance da menina Jeanne. Nem sempre é preciso mais que isso para se ter um bom filme.