Pássaros estranhos

UM SEGREDO EM PARIS

Enquanto jovens protestam contra a energia nuclear, gaivotas caem mortas como frutas maduras nas ruas de Paris. Isso é o que de mais notável acontece na fantasia romântica UM SEGREDO EM PARIS (“Drôles d’Oiseaux” ou “Pássaros Estranhos” no original). Pássaros estranhos são também seus personagens centrais: a jovem Mavie (Lolita Chammah), vinda do interior, escritora de gaveta e leitora de Marguerite Duras e Virginia Woolf; e Georges, livreiro idoso e amargo interpretado pelo veterano Jean Sorel.

Entre os dois estabelece-se uma relação platônica, que Mavie aquece com diálogos de amor transcorridos somente em sua imaginação. Tipo assim: como seria se não houvesse tamanha diferença de idade.

O argumento é tolinho como quase tudo no filme. A personalidade introvertida de Mavie contrasta com a de sua companheira de apartamento (Virginie Ledoyen), bagunceira e hiperativa sexualmente. Georges, por sua vez, esconde o segredo do título brasileiro nos confins de sua pequena livraria.

Em dado momento, Mavie vai ao cinema ver “Charulata/A Esposa Solitária”, de Satyajit Ray, em que uma mulher tem um caso com o primo do seu marido e divide com ele o amor pela literatura. UM SEGREDO EM PARIS quer se alinhar nesse subgênero de “gente apaixonada por livros”. Mas seu cacife é mínimo, suas feições são pálidas e seu argumento sequer se dá bem a entender.

Afora as gaivotas cadentes, o que chama mais atenção é a bela fotografia de Renato Berta, o mago por trás das imagens de tantos filmes de Godard, Malle, Straub, Oliveira, etc.

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