VISION
O cinema de Naomi Kawase afaga o espectador com imagens sedutoras e exige em troca uma predisposição especial para decifrar seus mistérios. VISION é um dos exemplares mais representativos dessa proposta. A filmagem das montanhas e florestas da sua Nara natal é um esplendor, apesar da repetição se tornar enjoativa. As cores frias e suaves do verão na primeira parte contrastam com os tons calorosos do outono na segunda, sempre permeados pelos filtros de luz e a pátina de névoa que recobre árvores, rostos e corpos. Tudo é beleza e harmonia, ainda que aqui se trate de traumas, solidão e infelicidade.
Juliette Binoche é a forasteira por excelência nesse filme profundamente japonês. Ela vive Joan, pesquisadora francesa que chega à procura de uma misteriosa erva chamada vision, supostamente capaz de curar as dores e angústias dos homens. Joan pouco sabe da planta. Dela pouco sabemos além de flashes de um provável passado marcado por morte e maternidade. As quatro pessoas com quem ela convive na floresta – entre realidade, alucinação (vision) e transferências – são igualmente enigmáticas.
VISION é um desafio à compreensão racional. Seja na delimitação dos tempos – a tal erva só aparece a cada 997 anos! –, seja nas relações dos personagens com a natureza. A floresta é alegadamente amada e respeitada, mas animais são abatidos, árvores são derrubadas e a mata é queimada em cenas para nós dolorosas no momento em que a Amazônia arde por obra de criminosos. A evolução do homem, diz-se a certa altura, não eliminou a agressividade e o senso de autodestruição. Daí a floresta estar em desequilíbrio e os homens, à deriva.
A meio caminho entre o sermão e o encantamento New Age, Naomi Kawase abusa das insinuações em diálogos descorporificados, meias-palavras, olhos marejados e fisionomias lacônicas. Estribilhos visuais como pessoas e animais atravessando um túnel ou árvores frondosas em contraplongê só fazem tornar o filme mais impenetrável e, no fundo, pouco interessante.