A moda da resistência

FAVELA É MODA no Cinesesc SP

FAVELA É MODA encerra a Trilogia do Corpo, com a qual Emílio Domingos vem documentando posturas físico-culturais de favelas e periferias do Rio de Janeiro. Depois dos pés em A Batalha do Passinho e da cabeça com a estética dos cabelos em Deixa na Régua, ele aborda agora o corpo inteiro. Escolheu um bom dispositivo, qual seja a agência de modelos Jacaré Moda, que até há pouco tempo arregimentava a meninada bonita de comunidades periféricas. As preleções do seu criador, Julio César da Silva Lima, são injeções contagiantes de ânimo e consciência para sua trupe.

O filme acompanha uma nova seleção de modelos iniciantes e o processo de inserção deles na vibe da Jacaré. São exercícios não só de conduta corporal, mas principalmente de autopercepção, quebra da rigidez advinda de complexos e preconceitos, afirmação de identidades sexuais variadas, empoderamento e compreensão de que a pobreza ou a diferença não constituem um “lugar” determinado de antemão para eles e elas na sociedade. A ideia de uma “moda da resistência” é o mote do trabalho do elétrico Julio, um ex-porteiro que se reinventou em empresário de moda.

Emílio Domingos é sempre um aliado daqueles que filma. Seu interesse é etnossocial, pois ligado tanto à performance quanto às barreiras que esses jovens têm que vencer para se imporem como produtores de beleza e comportamento. Uma discussão recorrente nesse filme, mas também subjacente aos seus anteriores, é a relação dessa juventude com os padrões dominantes no meio cultural. Entre perseguir aqueles padrões e engendrar os seus próprios, uma mudança de paradigma é necessária.

Em meio a toda essa discussão, FAVELA É MODA nos acaricia com uma gente linda, cheia de charme e capaz de reflexões espertas sobre sua condição e seus projetos de vida. Fora do mainstream branco e rico, não basta ser bonito e se vestir bem. É preciso saber pensar e projetar sua potência.

>>> Sessões no Cinesesc SP, dentro da mostra Seleção Rio, parceria com o Festival do Rio: sexta 7/2 às 19h (seguida de debate com o diretor e equipe) e quarta 12/2 às 15h.

Um comentário sobre “A moda da resistência

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