Balanço e favoritos de 2024

Afora a rotina diária de filmes, meu ano foi marcado por dois trabalhos paralelos. De um lado, concluí a montagem do video-ensaio Paisagens do Fim, baseado no site-livro homônimo lançado em 2021. De outro, avancei muito na preparação do meu próximo site-livro, Fim de Turno, que pretendo lançar em março de 2025, quando se completam 130 anos da primeira filmagem dos Irmãos Lumière. Fim de Turno é um estudo do tropo da saída de fábrica no cinema, dos Lumière ao cinema contemporâneo.

Paisagens do Fim, o video-ensaio, lançado em agosto, me trouxe muitas alegrias. Foi apreciado por críticos, cineastas e escritores, como se pode ver pela fortuna crítica que reuni aqui. Não sei se mereceu, mas figurou entre os destaques cinematográficos do ano por Eduardo Escorel na revista piauí e pelo crítico Marco Fialho em seu blog. Alguns professores de Cinema anunciaram a inclusão do vídeo em seus currículos. Estará no site da Cinemateca do MAM entre 14 e 20 de janeiro.

Em matéria de eventos, participei como debatedor e consultor de curadoria na quarta edição da Mostra Faróis do Cinema, dedicada dessa vez a cineastas mulheres. Repeti minha masterclass sobre Werner Herzog na Caixa Cultural de Curitiba e fui um dos curadores do simpático festival Citronela Doc, realizado em Ilhabela (SP). O livro Cinema e Ontologia Crítica, organizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Ontologia Crítica da UFF, contou com um artigo meu e excertos de mesa redonda da qual participei sobre o documentário Segredos do Putumayo, de Aurélio Michiles. Outras contribuições minhas saíram nos livros Por um Cinema de Cordel: Um Livro de Sérgio Muniz Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais.

Ao longo do ano, li muitos livros de ficção e não ficção, mas atenho-me a citar apenas dois: o livro-bomba Melhor Não Contar, de Tatiana Salem Levy, e O Chalaça, de José Roberto Torero, na nova edição assinada também por Marcus Aurelius Pimenta. Eu ainda não conhecia essa obra-prima do Torero, que me surpreendeu pelo fôlego histórico, a qualidade literária e o humor irresistível. Além dos tantos livros sobre cinema que li na pesquisa de Fim de Turno, lembro-me de ressaltar a esplêndida autobiografia de Werner Herzog, Cada um por Si e Deus contra Todos, e a Revisão Crítica do Cinema da Retomada. Neste último, com seu profundo conhecimento de causa e pensamento nuançado, Marcelo Ikeda disseca o cinema brasileiro do período e explica como o jornalismo cultural e a ideologia de resgate da produção pós-Collor acabaram por invisibilizar parte do cinema que se fazia no país à margem do ideário da Retomada.  

Fui pouquíssimo ao teatro, área em que destaco o monólogo Não me Entrego, Não, com Othon Bastos brilhando fulgurantemente aos 91 anos. A Maçã, com o mágico-ator William Seven, também me deixou boquiaberto. E poucas coisas foram mais gratificantes do que ver Débora Duboc e Renato Borghi contracenarem em O que nos Mantém Vivos.

Em esfera mais pessoal, destaco meu retorno vacilante à prática da musculação, depois de quatro anos de semi-inatividade, e a viagem que fiz à Tunísia em setembro (foto acima). No capítulo das perdas, foi doloroso ver partirem os amigos Toni Venturi, Vladimir Carvalho e Ely Azeredo, sendo que deste último compartilhei intensamente seus últimos dias.

Para minorar as tristezas que sempre se fazem presentes estavam, felizmente, os filmes. Este foi um ano pródigo em obras de fina qualidade, especialmente no que diz respeito ao cinema brasileiro. Os filmes iranianos também fizeram ótima figura nas minhas preferências. A seguir, enumero os meus favoritos, como de praxe separando documentários e ficções, lançados comercialmente ou vistos fora do circuito. Em cada título, o link para a respectiva resenha.

Filmes de ficção lançados em cinemas ou streaming:

O Diabo na Rua no Meio do Redemunho / Bia Lessa
Ervas Secas / Nure Bilge Ceylan
Malu / Pedro Freire
Ainda Estou Aqui / Walter Salles
Anatomia de uma Queda / Justine Triet
A Paixão Segundo G.H. / Luiz Fernando Carvalho
Tudo que Imaginamos como Luz / Payal Kapadia
O Sequestro do Papa / Marco Bellocchio
O Dia que te Conheci / André Novais Oliveira
Camponeses / DK Welchman e Hugh Welchman
Crônicas do Irã / Ali Asgari

Documentários lançados em cinemas ou streaming:

Bobi Wine, o Presidente do Povo / Moses Bwayo e Christopher Sharp
As Quatro Filhas de Olfa / Kaouther Ben Hania
A Memória Infinita / Maite Alberdi
Eu Não Sou Tudo o que Eu Quero Ser / Klára Tasovská
A Música Natureza de Léa Freire / Lucas Weglinski
Fernanda Young – Foge-me ao Controle / Susanna Lira
Meu Amigo Lorenzo / André Luiz de Oliveira
Matar um Tigre / Nisha Pahuja
Antonio Candido, Anotações Finais / Eduardo Escorel
O Contato / Vicente Ferraz

Filmes de ficção não lançados:

A Semente do Fruto Sagrado / Mohammad Rasoulof
Anora / Sean Baker
Emilia Pérez / Jacques Audiard
A Batalha da Rua Maria Antonia / Vera Egito
Flow / Gints Zilbalodis
Levados pelas Marés / Jia Zhang-ke
Mário de Andrade, o Turista Aprendiz / Murilo Salles
Cerrar los Ojos / Victor Erice
Meu Bolo Favorito / Maryam Moghadam e Behtash Sanaeeha
Linguagem Universal / Matthew Rankin

Documentários não lançados:

Tesouro Natterer / Renato Barbieri
No Other Land / Basel Adra, Abraham Yuval, Rachel Szor e Hamdan Ballal
A Invenção do Outro / Bruno Jorge
A Transformação de Canuto / Ariel Ortega e Ernesto Carvalho
Soldados da Borracha / Wolney Oliveira
O Nascimento de H. Teixeira / Roberta Canuto
Mais um Dia, Zona Norte / Allan Ribeiro
Hoje é o Primeiro Dia do Resto da sua Vida / Sandro Serpa e Bel Bechara
Trilha Sonora para um Golpe de Estado / Johan Grimonprez
Um Filme para Beatrice / Helena Solberg

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