Embora se inicie com a cena trágica de um suicídio no metrô, OH LUCY! logo se afirma como uma comédia de costumes baseada em diferenças culturais profundas. A solitária Setsuko (Shinobu Terajima) é uma mulher de meia-idade que divide seu tempo entre o trabalho burocrático e o pequeno e entulhado apartamento de solteirona. Por uma circunstância familiar fortuita, ela se matricula num exótico curso de “inglês americano”, cujo professor, o americano John (Josh Hartnet), é adepto de codinomes, perucas e abraços.
A nova situação abre avenidas inéditas na sensibilidade de Setsuko (ou Lucy), que a levarão a Los Angeles em companhia da irmã. A peruca loura e os abraços são ícones de uma certa fascinação japonesa pela cultura e o modo de ser americanos. Mais que isso, de um tesão pelo diferente dentro de cenário tão padronizado como aquele em que vive Setsuko.
Mas o filme da jovem diretora (e faixa preta no karatê) Atsuko Hirayanagi, residente na Califórnia, não vai deixar de retomar o tom mais grave anunciado no início. A bordo de sua paixão, Setsuko vai reverter sua carência numa conduta eventualmente cruel e patética, levando o filme, afinal, para os rumos de um drama amargo.
OH LUCY! transita entre um certo lugar-comum sentimental do cinema comercial japonês, na linha do superestimado Poesia, e uma inflexão mais ácida, que não poupa o lado mesquinho de nenhum personagem. O resultado é simpático, particularmente pela atuação persuasiva da atriz principal, mas não chegou a me causar impressão especial.