B.O.
Para exorcizar os demônios que rondam a atividade cinematográfica entre nós, assistir à comédia B.O. pode ser uma alternativa saudável. Apesar de ingênua, a parábola de Daniel Belmonte e Pedro Cadore sobre cinema independente diverte sem efeitos adversos.
Trata-se de uma brincadeira irônica com os filmes de gênero e com a noção de que só as comédias conseguem fazer uma bilheteria minimamente consistente no cinema brasileiro. É nisso que tentam investir os dois jovens cineastas Pedro (Daniel Belmonte) e Fabricio (André Pellegrino). Mas, pelo que se vê na entrevista com um produtor que abre o filme, eles não têm muito jeito para a coisa. A caricatura do produtor de cinema, afinal, é alguém que não faz filmes – faz dinheiro.
Os rapazes resolvem, então, experimentar um drama. Com doença terminal, conflitos de família, perdão e tudo o mais. Um drama daqueles que fariam chorar até um vaso de plantas. A discussão do roteiro, a montagem da equipe e a escalação do elenco compõem uma sátira do cinema de garagem. A rivalidade entre os dois protagonistas, um ator empenhado que nunca sai do personagem e um Youtuber famoso que não aceita ser coadjuvante, rende as tiradas mais divertidas do longa, enxuto em seus meros 75 minutos. Além disso, as filmagens de uma falsa viagem com o irmão doente resultam num comentário a mais sobre as precariedades e inventividades do baixo orçamento.
Da comédia que faz chorar ao dramalhão que faz rir, B.O. dribla as deficiências técnicas com o discurso autorreflexivo e faz do limão uma razoável limonada.