BOAS INTENÇÕES
Por mais sério que seja o tema da imigração na Europa, sempre aparece alguém tentando tirar dali algum tipo de humor bem intencionado. Assim é a comédia francesa BOAS INTENÇÕES, de Gilles Legrand, cujo título já exprime seu propósito e sua limitação.
A ótima atriz e ocasional diretora Agnès Jaoui vive Isabelle, professora de francês para imigrantes. Sua vocação para o serviço humanitário a afastou da família burguesa e agora ameaça afastá-la também do marido, que conheceu enquanto trabalhava numa ONG cuidando de feridos na guerra da Bósnia. Isabelle é uma caricatura da pessoa politicamente correta, daquelas que questionam a vendedora do shopping sobre o percentual destinado às crianças de Bangladesh na roupa que está comprando para a filha.
O alvo da sátira é esse altruísmo um tanto ingênuo, que gera resultados às vezes pífios ou mal-entendidos lamentáveis. Quando não cai em situações constrangedoras, como levar um bebê africano para casa e colocá-lo ao pé da árvore de Natal.
O filme, porém, não chega a ser ácido. Bem ao contrário, procura angariar simpatia pelo sentimento da solidariedade, ainda que recorra a muito contorcionismo de roteiro para fechar suas pontas. A carência familiar, que está na base dessa disposição de Isabelle para ajudar os outros, torna difícil compreender que ela negligencie tanto o marido e os filhos.
Outra incoerência, a meu ver, é que toda a comicidade do filme se baseia no estereótipo, seja dos burgueses, seja dos imigrantes. O brasileiro Tiago, por exemplo, é um jovem limítrofe que veste camisa de jogador de futebol e é identificado por batidas de samba. O romeno é bronco, a chinesa é ingênua, a búlgara é petulante, e assim por diante. Num filme que, afinal, se pretende humanista, a licença do humor não autorizaria caracterizações tão toscas.