NEVILLE D’ALMEIDA, CRONISTA DA BELEZA E DO CAOS
Goste-se ou não do cinema de Neville d’Almeida, não há como não gostar de NEVILLE D’ALMEIDA, CRONISTA DA BELEZA E DO CAOS. A partir da aproximação para a curadoria de uma mostra de cinema, o crítico Mario Abbade agarrou a oportunidade e fez um perfil picante e divertidíssimo do cineasta, pontuado por trechos e making ofs dos seus filmes. Lá estão os embates com a censura (política e de costumes), as parcerias com Hélio Oiticica, o fenômeno Dama do Lotação, os vários escândalos em torno de Rio Babilônia e sobretudo as tiradas desavergonhadas de Neville. Por exemplo: “Ficam muito incomodados com o meu talento”.
Escrevo essas linhas de memória, pois vi o filme já há mais de um ano e ainda não pude rever. Sei que me ficou a ótima impressão de um personagem que encontra a melhor maneira de ser retratado. Ou seja, preservando o seu espírito peculiar, mas organizando o material para nosso deleite. Algumas “questões” podem soar vulgares, como a discussão sobre Neville ser ou não “um tarado” ou se houve penetração na famosa cena de Joel Barcelos e Denise Dumont em Rio Babilônia. Mas quem disse que essa vulgaridade não é parte indissociável da concepção nevilleana de um cinema provocativo e visceral?
As cenas em que ele fala para a câmera de Abbade com um lenço cobrindo a cabeça ou o rosto são exemplares da sua automitificação como cineasta avesso à cartilha da boa conduta e da modéstia. Aos críticos que não o apreciarem, que levem seu bonequinho embora e assumam sua miséria sexual.