As angústias de Sócrates

SÓCRATES

O Instituto Querô é uma ONG de Santos que usa o audiovisual num belo trabalho de inclusão social de jovens em situação de risco. Já produziu muitos curtas e estreou no longa-metragem com SÓCRATES, filmado em 2016. Esse cartão de visita enseja imediata simpatia pelo projeto, o que em parte é confirmado pelo filme.

Sócrates, o protagonista, é um menino de 15 anos da periferia de Santos. Negro, pobre e homossexual, reúne todos os signos da vitimização. Já na primeira imagem, vemos seu desespero ao encontrar a mãe morta na cama. Ao que parece, começa ali sua vida de adulto. Ele tem que se virar sozinho, fugindo do pai homofóbico. O filme consiste no seu périplo em busca de um emprego, de dinheiro para pagar o aluguel do quarto onde mora e, por fim, de um lugar para recostar a cabeça à noite. A meio caminho, conhece um rapaz com quem terá um envolvimento tumultuado. Um pente e uma caixa com cinzas indicam que o amor pela mãe ocupa o centro do seu coração.

A estética é crua e a produção é modesta, assim como o potencial dramatúrgico de uma história bastante linear e plana. Na medida em que Sócrates se aproxima de certas fronteiras da ética, do amor próprio e da violência, o filme ganha então seus momentos mais marcantes.

O menino tem uma pureza bonita e uma fragilidade que o faz ora acuado, ora destemperado. Esse perfil é bem defendido pelo ator Christian Malheiros, que não pertencia aos quadros do Querô. Da mesma forma, o diretor Alex Moratto é de origem norte-americana, filho de mãe brasileira, que perdeu em 2014 e cuja morte o inspirou no roteiro. Juntou-se ao grupo para dar aulas e desenvolver esse projeto. Fernando Meirelles assina a produção executiva.

SÓCRATES tem sido premiado em festivais no Brasil e no exterior, tendo chegado a concorrer em três categorias aos Spirit Awards, o Oscar do cinema independente. Isso prova que seu apelo vai além da simples admiração pelo Instituto Querô. Ao mesmo tempo, essa chancela tampouco deve elevá-lo para além de um filme singelo e amável, mas baseado somente na angústia de um beco aparentemente sem saída.

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