Comentários irresponsáveis que postei recentemente nas redes sociais sobre filmes em cartaz:
Há tempos eu não via tanto clichê de italianices como nesse A PRIMEIRA COISA BELA. Todos falam muito, gesticulam muito, choram muito, mas dizem pouco, mostram pouco e emocionam pouco. A personagem da mãe está longe de ter a força com que os roteiristas sonharam. Os filhos são chatos, os parentes são caricatos. O filme é mais uma tentativa complacente de reeditar os “áureos tempos” da comédia italiana “familiare”, mas sem o gume de um Monicelli, e sim com a sacarose de um Benigni.
DEUS DA CARNIFICINA é teatrão filmado de boa qualidade. Isso significa: passar bem o texto com elenco competente e decupagem “transparente”. O resto já estava na peça, na tradição do teatro de desnudamento burguês. É Polanski funcionando no piloto automático, mas, através do tema, deixando sua marca de oposição aos clichês do politicamente correto. Ele tem boas razões para isso. Assim como Jose Geraldo Couto, também pensei em O ANJO EXTERMINADOR enquanto assitia ao filme. A quase absoluta “impossibilidade” de sair, para os Cowan, e de se livrar deles, para os Longstreet, lembra mesmo o dispositivo do filme de Buñuel. Mas tendo a achar que o Polanski não conseguiu disfarçar certos artificialismos de dramaturgia que podem funcionar no teatro, mas não no cinema. Os motivos dos sucessivos retornos ao interior do apartamento são um deles. Outro são os silêncios dos demais durante os muitos telefonemas de Alan no celular. Não vi a peça, não sei como isso se dava no palco.
À ESPERA DE TURISTAS dilui tanto a História (Auschwitz, reparação alemã) quanto a história (humanitarismo, romance nas bordas do campo de concentração) num roteiro anódino e numa realização impessoal. E ainda por cima, como bem observou a Rosane, soa como uma desqualificação do povo polonês, que aparece como gente fria, irascível, vadia e truculenta.
Zhang Yimou virou um fabricante de mastodontes conservadores. Em FLORES DO ORIENTE ele abusa de clichês e estereótipos para provocar pathos com a vitimização da guerra. Investe no dramalhão pesado para, nos lances finais, fazer bonito com a mão de seda de outros tempos. Mas aí eu já estava soterrado sob as toneladas de lágrimas e heroismo manufaturado. Não deu mais tempo de gostar.
P.S. A projeção escura, de baixa definição, e o som de radinho de pilha nas sessões de À ESPERA DE TURISTAS (Arteplex/Itaú) e A PRIMEIRA COISA BELA (Estação SESC Rio) podem ter contribuído para uma impressão ainda mais pálida dos respectivos filmes.