Google Books, a nova Alexandria

Google and the World Brain (visto na internet) é um documentário produzido pela BBC e um pool de emissoras de TV europeias. Não admira, portanto, que assuma um viés de crítica ao Google Books, dando alta voz às universidades e bibliotecas do Velho Continente que se opuseram ao projeto de escanear e disponibilizar na rede todos os livros do mundo. Mas há também americanos contestando a fome de letras da Google, como o diretor da biblioteca da Universidade de Harvard, que a princípio se encantou com a oferta de digitalizar de graça cada página dos 17 milhões de volumes de suas estantes para depois concluir que era muita transferência de poder para uma só empresa.

O filme de Ben Lewis historia o antigo sonho de um repositório único para todo o conhecimento universal, desde a Biblioteca de Alexandria, passando pela Enciclopédia de Diderot e as especulações de H.G.Wells reunidas no livro “Cérebro Mundial”. Ao mesmo tempo, o documentário descreve a batalha intelectual e jurídica de escritores, editores e instituições culturais contra o Google Books. São cinco as frentes de luta: a ideia de um monopólio da totalidade do conhecimento humano por uma empresa comercial; a infração dos direitos autorais na medida em que os livros são disponibilizados de graça na rede; a violação da privacidade dos hábitos de leitura individuais, que podem servir à vigilância política e social; a desvirtuação do livro ao ser servido em trechos (snipets) de acordo com as demandas de pesquisa; e por fim a preponderância do inglês na formação de acervos, preocupação que atinge muito especialmente os franceses.

Um acordo negociado com as ligas de autores e editores americanos foi contestado nas cortes e não pôde ser implementado. A Google continua digitalizando livros sem direitos autorais vigentes e outros mediante negociações diretas com editores e bibliotecas. Já escaneou mais de 10 milhões de títulos.

A empresa quer fornecer o acesso de todos a tudo, mas ela mesma não está acessível. Ben Lewis não conseguiu representantes para falar do assunto nos EUA, nem imagens dos famosos escaners usados no Google Books. Ele compensa isso com muita informação e análise, além do recurso a poderosas imagens ilustrativas – inclusive de algumas das mais belas bibliotecas do mundo – e animações. Um trabalho competente, que mostra como uma utopia de sempre pode se transformar num dilema da atualidade.

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