Começou ontem, no CCBB-Rio, mais uma edição do Cinesul, o Festival Internacional de Cinema Ibero-americano de Cinema e Vídeo criado há 15 anos pela saudosa Ângela José (1956-2007). O Cinesul nunca perdeu uma certa timidez tanto na busca de filmes como na visibilidade alcançada. Mas a abertura para a Íbero-América (era antes Latino-americano) trouxe uma maior diversificação.
O evento abriu para convidados na segunda-feira com o doc mexicano Los Días sin Joyce (Un Diario Imaginario), de Anna Soler Cepriá e Agustín Tapia. Taí uma prova de como as características dominantes numa cinematografia se impõem não apenas na ficção, como também no documentário. O filme é um típico melodrama mexicano, mas com personagens reais e materiais documentais.
Bill e Joyce Parker eram um casal americano que gostava de viajar, fotografar e filmar. Viveram mais de 40 anos no interior do México, onde Bill, engenheiro metalúrgico, supervisionava as instalações de uma refinaria americana. Suas fotos e filmes são ordenados por Anna e Agustín num roteiro interessado somente em enfatizar a união romântica do casal. Com um desfecho romanesco: 36 dias após a morte de Joyce, de câncer pulmonar, Bill suicidou-se.
A estrutura baseada num suposto diário de Bill e a narração quase chorosa (por Ofelia Medina e Héctor Gómez) criam uma embalagem pesada, que faz o filme parecer comprido mesmo com apenas 61 minutos de duração. Mas nada chega a comprometer a força do material documental. Os filmes amadores registram a vida no povoado de Michoacán, o trabalho nas minas, as festas e sobretudo os passeios do casal. Há cenas deliciosas do Rio de Janeiro nos anos 1930, assim como de Buenos Aires, Barcelona e outros lugares.
Ou seja, vale a pena aturar as ênfases dramáticas para curtir cenas de grande curiosidade e de certo valor etnográfico. Ao mesmo tempo, insinua-se uma tímida reflexão sobre o que as imagens podem reter e o que, inevitavelmente, deixam de capturar do essencial da vida.
Haverá sessão única no dia 26, às 19h30, no cinema do CCBB.