A rede de simpatia que envolveu Apenas o Fim corre o risco de criar um filme fictício no lugar de um filme de ficção. As pessoas falam de sinceridade, baixo custo e despretensão como se esses fossem índices de qualidade cinematográfica. Não são. Ralinho como papa aguada, o filme de Matheus de Souza não depende da decifração dos signos pop-tele-games para ficar melhor. Pelo contrário, o acúmulo dessas alusões torna a conversa do casal mais artificial e supostamente “espetacular” do que sugere o despojamento da filmagem. E as aproximações com Godard, Richard Linklater, Woody Allen e Domingos Oliveira, convenhamos, só fazem mal ao modestíssimo (em muitos sentidos) Apenas o Fim.
Calma, gente, não percamos as referências.
Bom: uma certa presunção é bastante característica da adolescência. Ponto para o filme no quesito coerência. 🙂
Sem querer armar debate em site alheio, eu acho que muito filme bom foi feito tentando fazer tudo certinho e agradar o público. O maior problema desse nosso cinema é que ele faz tudo certinho para agradar a um público minúsculo de gente que foi aos mesmos colégios, comprou nas mesmas lojas, namorou as mesmas pessoas e paga IPTUs parecidos. Daniéis Filhos com sinal trocado.
Carlinhos, ainda não vi o filme, mas me vem à mente uma frase do Neville D’Almeida: “O cinema que triunfou no Brasil é careta, não mostra nada, é um Cinema Mauricinho, que só se preocupa em agradar o público e tentar adivinhar o seu gosto.”
Tem a ver?
Marcelo, concordo com o Douglas aí embaixo que a questão não é querer fazer certinho. Os irmãos Salles, por exemplo, querem fazer certinho e fazem filmes ótimos. “Estômago” é todo certinho e é bom pra cacete. O que me desagradou em “Apenas o Fim” foi a circunscrição do filme àquele mundinho pop adolescente, como se tudo aquilo soasse muito inteligente, mas sem oferecer inteligência de verdade em matéria de dramaturgia, discussão ou mesmo emoção. O que mais gosto é a sequência do quadro-negro, quando o filme quase cria um discurso paralelo sobre sua própria pretensa espontaneidade. De resto, vejo mais inanição que frescor.
Ufa! Alguém finalmente disse.
Ufa! Alguém finalmente concordou.