Doc mentalidades. Só a citação final do Profeta Maomé vai esclarecer plenamente o título do filme. Mas não é preciso decifrá-lo para compreender o propósito do diretor Malek Ben Smail. Na pequena cidade onde, em 1954, a morte de dois professores detonou a revolta pela independência da Argélia, ele documenta pacientemente as mentalidades dos habitantes em busca de sinais do que significa, hoje, essa independência. Obtém não só testemunhos históricos importantes, mas sobretudo contradições e complexidades no trato com a cultura e a identidade nacionais. E tudo se assemelha ao vocabulário dos filmes de ficção: a pesquisa de imagens elaboradas, as alternâncias de tempos, repetições, esboços de narrativa em continuidade, traços de uma realidade cuidadosamente encenada. Numa sala de aula, Smail faz milagres de captação espontânea à moda de Entre os Muros da Escola, flagrando inocência e apatia. Entre os mais velhos, encontra ambições ainda colonizadas e até uma certa nostalgia dos “milagres” operados pelos franceses. Um filme raro, que se desdobra com calma beleza em seus 120 minutos. ♦♦♦