A Retrospectiva nacional do É Tudo Verdade este ano elenca 15 filmes, de várias metragens, que de alguma maneira se relacionam com a poesia (veja no site do festival). Há desde filmes bastante oficiais, como o Castro Alves de Humberto Mauro, produzido para o Instituto Nacional do Cinema Educativo em 1948, até uma obra tão autoral e independente como Pan-Cinema Permanente, o tributo de Carlos Nader ao amigo Waly Salomão.
Nesse amplo espectro de épocas e linguagens, o festival se pergunta sobre a convivência da poesia com a vocação supostamente realista do documentário.
O conceito de doc poético tem sido usado e abusado à exaustão. Basta que algum elemento de um filme destoe um pouquinho dos padrões clássicos de exposição, observação e interação para que alguém já encha a boca com a palavra “poético”. Mas para que um doc seja poético não é suficiente que lide com imagens em fusão, câmeras lentas, grafismos e adereços do gênero. Não basta tampouco que trate de poetas ou de poesia. Para ser poético, um doc precisa olhar a realidade de maneira lírica – e esta premissa já vai alterar profundamente (e não superficialmente) sua linguagem.
O Poeta do Castelo, retrato minimalista de Manuel Bandeira por Joaquim Pedro de Andrade, consegue acumular as duas acepções: é um filme poético sobre um poeta. Caramujo-Flor, de Joel Pizzini, vai ainda mais longe, traduzindo em poesia audiovisual a seiva terrosa de Manuel de Barros. Já Vinicius, o grande sucesso de Miguel Faria Jr., usa uma estrutura de prosa para cantar (e bem) o poetinha.
A retrospectiva reúne diversos modelos de aproximação entre o documentário e a poesia. A verdade, se é que cabe mencioná-la, tem que ser buscada em outras instâncias que não as do registro e da dramaturgia. Sobre isso e muito mais vamos conversar na quinta-feira, dia 7, às 16 horas, no cinema do Instituto Moreira Salles (Rio). Eu vou mediar o bate-papo com Joel Pizzini, Walter Carvalho e Bebeto Abrantes.
Apareçam.