Ópera operária

Foto: Carlos Alberto Mattos

Dê uma pausa na dupla Botelho & Moeller e se ligue num autêntico musical brasileiro. Missa dos Quilombos está só até terça que vem no Armazém da Utopia, no cais do porto. A Missa na verdade é uma ópera afro-brasileira, escrita há 30 anos por Milton Nascimento, Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra. Já foi montada sete vezes pela mesma Companhia Ensaio Aberto desde 2002 em várias partes do Brasil. Mesmo que você já tenha visto alguma dessas montagens, vale a pena revê-la no espaço literalmente épico do Armazém.

O pequeno vídeo abaixo, que gravei com meu celular, dá uma ideia do uso que Luiz Fernando Lobo e sua trupe fazem da ampla boca de cena e do pé direito monumental. Ali se pode sentir melhor os ecos de um Metropolis, de Fritz Lang, ou de uma ópera contemporânea tipo Bob Wilson. Sob o palco principal instala-se uma oficina metalúrgica, enquanto a ação se espalha pelas laterais evocando ora canteiros de construção civil, ora as labutas da mineração, da lavoura ou dos estivadores. O entorno das docas, com seus guindastes e os barcos que passam, compõe uma espécie de cenário adicional, perfeitamente integrado ao espetáculo.

Missa dos Quilombos usa a estrutura narrativa e os temas de uma missa católica para falar da escravidão, do preconceito racial e das injustiças sociais de um Brasil então mergulhado nos últimos anos da ditadura. A Companhia Ensaio Aberto atualiza a pauta com o movimento dos sem-terra e outras referências mais recentes. Aqui e ali, Luiz Fernando Lobo deixa sua marca um tanto jogralesca, com textos exclamados em uníssono e posturas de realismo socialista. Mas da forma como isso vem envelopado na musicalidade exuberante da Missa e no magnífico trabalho de canto, dança e luz, tudo fica irresistível, emocionante. Não dá pra perder.

Missa dos Quilombos: quarta a sábado, segunda e terça às 21h; domingo às 19h.
Armazém da Utopia – Av. Rodrigues Alves, Armazém 6. Tel.: 2253-8726  

3 comentários sobre “Ópera operária

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