Antes de publicar o post anterior, sobre a montagem em cartaz de Missa dos Quilombos, eu tinha enviado algumas perguntas ao diretor Luiz Fernando Lobo. As respostas chegaram depois da publicação. Segue aqui a entrevista:
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– Esta parece ser a sétima vez que você monta o espetáculo. Qual a principal novidade dessa atual montagem, além do espaço do Armazém?
LFL – De fato essa é a sétima edição da Missa. Não há nenhuma inovação formal. O que há é que ao longo dos anos fomos trabalhando e conseguindo com isso um aperfeiçoamento técnico e artístico do próprio espetáculo. Em termos de tecnologia há uma grande mudança na qualidade do som, especialmente das vozes.
– Que acréscimos você fez nessa versão em relação ao texto original da Missa?
LFL – Acrescentei só dois textos, mas já em 2002: a carta das mães sem terra e o texto do Betinho sobre a criança que corta uma tonelada de cana por dia.
– Com quem você divide a direção do canto e as coreografias?
LFL – A preparação vocal é da Aurora Dias, também atriz do espetáculo e membro da Ensaio Aberto. A preparação corporal é da Joana Marinho, também do nosso coletivo desde 2003. A preparação das danças de orixás são do Forró, que faz o espetáculo desde a criação, e da Valéria Monã. A coreografia de Mariama e do Ofertório é da Paula Águas.
– Quem é o cantor que tem voz idêntica à do Milton Nascimento, que faz o primeiro solo da peça?
LFL – Aquele cantor maravilhoso é de Minas e se chama Ladston Nascimento. Apesar da origem, do sobrenome e da voz, não é parente do Milton.
– Estou delirando ou tem uma estética de Metropolis/Fritz Lang ali?
LFL – Não é delírio. Criei todo o espetáculo a partir do conceito de Eisenstein de dramaturgia da forma, uma dramaturgia que não parte do texto mas das imagens. No caso, partimos das imagens do mundo do trabalho do Sebastião Salgado e do João Roberto Ripper. Com essas imagens na mão, vimos a que parte da Missa elas mais se ligavam e depois fechamos os pontos. É claro que isso tem toda uma relação com o construtivismo russo e alemão do início do século 20. Não busquei uma estética nem russa nem alemã mas o espetáculo é herdeiro disso de alguma forma. Tem uma coisa que se fala muito pouco que é o conceito brechtiano de estranhamento, que tem um similar russo, Ostreinie. É um caldo disso tudo com a música linda do Milton e a poesia do Pedro Tierra e de D. Pedro Casaldáliga.