Compañeros infiltrados

WASP NETWORK: REDE ESPIÕES na Netflix

Podia ter saído de um livro de John Le Carré, como notou o crítico do The New York Times, mas Wasp Network: Rede de Espiões é inspirado no romance-reportagem de Fernando Morais, Os Últimos Soldados da Guerra Fria. Você vai precisar de uma bússola e uma planilha do Excel para acompanhar as mudanças de época e de país nessa trama de espionagem rocambolesca.

O primeiro ato é uma rota de fuga direta entre dois pontos. Os pilotos René (Edgar Ramirez) e Roque (Wagner Moura) são vistos escapando de Cuba em direção a Miami. Vão se juntar aos grupos anticastristas que proliferavam na Flórida nos anos 1990, a exemplo do que fizeram tantos gusanos (como os cubanos chamam os “vermes” que desertaram da Revolução). Nos atos seguintes, outros personagens vão aparecer, como mercenários recrutados em Honduras e El Salvador para atividades de sabotagem e terrorismo contra o turismo e a economia cubanas.

Com mais de uma hora de filme, recua-se quatro anos no tempo para receber Gael García Bernal no papel de Manuel Viramontez, encarregado de chefiar a Rede Vespa (Wasp Network) para espionar os anticastristas de Miami. É só então que vamos conhecer as reais intenções de René e Roque em seu exílio estadunidense. René com o suposto propósito de ajudar os balseros que fugiam de Cuba; Roque com desígnios mais tortuosos para manter sua figura de galã jamesbondiano versão latina.

Descontados os inevitáveis toques de fantasia, tudo o mais é baseado em ocorrências e personagens reais levantados por Fernando Morais. Há mesmo uma aparição documental de Fidel Castro em depoimento sobre as ações de contra-espionagem levadas a cabo na Flórida. Ataques a praias e hotéis turísticos de Cuba são dramatizados, assim como encontros mafiosos dos militantes empenhados em “libertar” Cuba do comunismo.

Wasp Network minimiza o teor político da trama para valorizar os aspectos mais espetaculares, incluindo escutas telefônicas, batidas do FBI e caçadas aéreas dignas de um Top Gun. No letreiro inicial, o filme cita o objetivo dos dissidentes de “libertar” Cuba, assim editorializando uma perspectiva anticastrista que a ação do filme, afinal, não chega a ratificar. Olivier Assayas aposta num terreno de ambiguidade política para melhor realçar as feições do thriller aventuresco.

É interessante notar que, em filme tão másculo e movimentado, o que mais satisfaz são as histórias íntimas de Roque e sua mulher (Ana de Armas) e, em especial, de René e sua família. Privadas do conhecimento sobre as verdadeiras atividades de seus maridos, as esposas formam o elo mais dramático do enredo. Num elenco em ótima forma, Penélope Cruz está particularmente impecável como a mulher de René, que sofre com as duas filhas a fragmentação do grupo familiar por conta da abnegação do marido em prol de sua causa.

Vale ainda destacar o entusiasmo com que Wagner Moura e a gatíssima Ana de Armas fizeram par romântico em Sérgio e agora nesse filme. É um entrosamento que dá o que falar.

5 comentários sobre “Compañeros infiltrados

  1. Concordo com a sua crítica, Carlos. Logo no dia da estreia assisti à Wasp Network. Tinha muito curiosidade em relação a este filme que é uma produção bastante cara com cenas de ação em terra, céu e mar e elenco latino com grandes nomes. A direção de Assayas é talentosa, principalmente, ao retirar dos atores excelentes atuações, com destaque para a Penélope Cruz que faz um trabalho brilhante, inclusive com um perfeito sotaque cubano. Assisti ao filme com grande interesse até um certo ponto, quando senti que tudo o que o filme plantou não se resolvia a contento, pelo contrário, decepcionava. O maior exemplo se dá com o personagem Wagner Moura e sua recente esposa, Ana de Armas (lindíssima).

    A partir de um ótimo início, com a fuga do personagem de Edgar Ramirez, sua chegada em Miami, o desconcerto e a raiva de sua mulher, Penélope Cruz e o sofrimento de sua filha e familiares, o filme agarra emocionalmente o espectador e o coloca dentro da história que é porém interrompida pela “fuga” de Wagner Moura que inicia uma outra narrativa, à qual o filme dedica longo tempo.

    A tentativa de quebrar a trajetória linear com flashbacks por vezes desnecessários e a trajetória dos diferentes personagens com diferentes graus de interesse, acabou contribuindo para uma sensação de barriga e de uma história mal contada.

    O roteirista (o próprio Assayas) se perdeu em fatos e personagens o que custou-lhe não desenvolver melhor o núcleo dramático do filme: o casal Edgar Ramirez e Penélope Cruz. Há uma coisa que Gabriel Garcia Márquez comentou em uma oficina de roteiros à qual tive o privilégio de fazer: se você tirar uma coisa de um roteiro/filme e não fizer diferença para a história que está contando, ela deve ir diretamente para o lixo – um grande filme/livro, a gente também conhece pelas coisas boas que ficaram de fora. Apesar da ótima atuação e da beleza do casal, a história entre Wagner Moura e Ana de Armas parece puro artifício, não transcende, e a relação do personagem de Wagner com o protagonista é fraquíssima como também é o arco do seu personagem que só contribui para enfraquecer o plot principal. Em um thriller, isso é um pecado que custa caro. O roteiro está longe da grandeza dessa história.

    • Também concordo com você, Roberto. A farsa do Roque com Ana é muito mal contada, apesar do charme do casal. A gente nem compreende bem que Ana era uma anticastrista fervorosa, daí seu desmoronamento no final.

  2. Não gostei do filme. Ele se perde do meio para o final. Concordo com Carlos Alberto de Mattos: é preciso uma planilha para acompanhar toda a história. Fiquei torcendo para ver minha querida Havana, mas ela quase não aparece. Não conheço, mas detesto Miami.

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