De alguns amigos com quem primeiro comentei da minha viagem ao Irã, ouvi perguntas e exclamações do tipo: “Você está louco?” / “Não tinha um lugar mais tranquilo para visitar?” / “Vai prestigiar aquela ditadura teocrática que prende e executa?” / “O que vai fazer no Irã, afinal?”.
Embarco para lá amanhã (quinta, 13/4) e respondo agora àquelas perguntas.
Para começar, não estou louco. Apesar do terror que a mídia ocidental promove a respeito do Irã e das tensões que existem de fato, aquele é um país extremamente tranquilo para turistas – desde que eles não se envolvam na política local e cumpram os preceitos ditados pela Revolução Islâmica. Estes são muito mais severos para as mulheres. Eu vou sozinho, gozando portanto de privilégios reservados aos homens, como andar com a cabeça e os braços descobertos.
Haveria, sim, lugares muito mais tranquilos para visitar. Não sei de protestos na Nova Zelândia, por exemplo, nem de climas políticos nefastos na Noruega. Mas já viajei muito, e o Irã estava no meu radar há um bom tempo. Além do mais, todas as informações fidedignas que tenho dão conta de um país acolhedor, seguro, e uma gente extremamente hospitaleira – talvez até demais para o meu gosto. Para um visitante como eu, o Irã é um país absolutamente tranquilo.
O regime dos aiatolás é de fato uma realidade cruel. Uma sociedade onde a religião dita as leis e o conservadorismo impera e mata não merece qualquer admiração. Acontece que eu não vou visitar o governo iraniano, mas o seu povo e sua cultura. Um povo que seguidamente tem resistido aos governantes totalitários, sejam eles monárquicos ou clericais. Hoje os iranianos escolhem presidente e parlamentares a partir de uma lista previamente estabelecida pelo Conselho dos Guardiães da Revolução, que tem poderes para vetar qualquer decisão que se oponha às leis islâmicas. A margem de oposição é, portanto, nenhuma. Todo desvio pode ser punido com prisão, cerceamento da cidadania e eventualmente morte.
O Irã tem uma história de glórias, derrotas e invasões sem que jamais tenha experimentado plenamente a democracia. Esperar que se torne democrático seria renunciar à experiência incomparável de conhecê-lo.
E o que vou fazer no Irã? Ora, vou botar os pés numa das matrizes da civilização humana. Os persas estão no mapa desde cerca de 2.000 A.C. O império persa foi o primeiro superpoder a dominar grande parte do planeta por mais de dois séculos. Em suas sucessivas dinastias, a cultura persa legou ao mundo uma infinidade de heranças artísticas, literárias, linguísticas, culinárias e religiosas – inclusive a primeira religião monoteísta, o zoroastrismo, ainda hoje praticado por uma minoria. Mais recentemente, o Irã nos presenteou com uma das melhores cinematografias do mundo.
Vou conhecer in loco alguns dos palácios, mesquitas e jardins mais deslumbrantes que se pode ver. Vou passear por localidades que permanecem intactas há séculos e outras onde abundam os luxos modernos. Depois de um longo voo via Dubai, meu trajeto vai compreender as cidades de Shiraz, Yazd, Nain, Isfahan, Abyaneh, Kashan, Qom e, por fim, a capital Teerã. No caminho, não perderei as ruínas de Persépolis e Pasárgada, as primeiras capitais do império Aquemênida, cujos nomes fazem voar nossa imaginação.
Organizei meu calendário de modo a passar os sete últimos dias do Ramadã já no Irã. Quero ver como é a vida dos muçulmanos durante esse período em que jejuam, inclusive de água, até o por do sol. E à noite se atiram em alegre comilança. A última noite do Ramadã (21 de abril este ano) é marcada por banquetes e uma grande celebração, o Eid al-Fitr.
Na minha preparação para a viagem, em meio a muitas leituras, filmes e vídeos, li três livros essenciais para quem escolhe esse destino: Descobrindo o Irã, da crítica de cinema e viajante Ivonete Pinto, Trágica e Bela – Uma Viagem pelas 1001 Faces da Pérsia e do Irã, de Lúcia Araújo, e Os Iranianos, do jornalista Samy Adghirni. São introduções vastas e deliciosas à história, à cultura e ao modo de vida iranianos.
Ainda não sei como será meu acesso ao Facebook, uma vez que a plataforma está banida pelos clérigos e os VPN são incertos no Irã. Se não conseguir postar minhas fotos diárias por lá, como costumo fazer em viagens, tentarei postar aqui no blog. Retorno no dia 30 de abril e então conto o resto.
Oi Carlinhos:
Ótima viagem! Depois faça uma reunião para nos contar tudo
Que pena que a Rosane não vai também!
Com certeza, vou contar em detalhes. Beijos!
Vá consigo mesmo, na paz, e volte pra nos contar a grande experiência.
Boa viagem e um ótimo regresso.
Mersi, como agradecem os iranianos
Será uma viagem inesquecível , uma aventura, no seu caso um vasto campo para pesquisas. Preparou-se mesmo para essa jornada. Quando fiz o curso básico, seria o ginásio, estudamos a civilização persa, sua arte e cultura. O cinema iraniano nos dias de hoje, nos apresenta a importância que dessa civilização. Boa viagem!
Até a volta, querida
Vá embora pra Pasárgada, mas volte!
Boa viagem, Carlinhos!
Grande abraço
Volto porque agora sou amigo do “rei” daqui.
tamos juntos!
Querido Carlinhos! Boa viagem! Eu sou do grupo que está feliz demais com a sua ida a esse país que deve ser incrível! Claro que sei de seus problemas, ainda mais sendo mulher, mas um lugar que certamente deve nos conectar a tantos aspectos culturais importantes que foram sendo propositalmente apagados…você sabe bem disso!
Em breve mando notícias dobre o Putumayo na UFF. Acho que vamos conseguir fazer a sessão na universidade mesmo, lá em Niterói! 😀 o que é legal também!
Tudo de bom e até breve! Julia
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Até já, Julinha.
Carlinhos, muita coragem, mas.muito desejo de ampliar o conhecimento e a visão de mundo.
Me convide na.proxima, que eu vou.
Abraços e viagem maravilhosa.
Se soubesse, tinha te convidado…
Querido Carlinhos Não esqueça de não dar a mão ao cumprimentar uma mulher, a menos que ela tome a iniciativa (o que é improvável). Será uma viagem inesquecível 🙂 1bj
Estou alerta, querida. Seu livro me abriu os olhos para muita coisa.
Boa viagem e aguardo o relato da volta! Abs.
Abraço!