O Odeon exibe hoje (sábado), na programação do IV Encontro de Cinema Negro Brasil África & Caribe, uma das novas produções da Cavídeo. É o longa Copa Vidigal, programado para as 18 horas. Luciano Vidigal dirigiu, Cavi Borges produziu junto com o Nós do Morro. Na tela, temperada com muito sambinha e pitadas de funk, transcorre uma temporada do campeonato de futebol criado no Morro do Vidigal pelo líder comunitário Cypa depois que uma guerra entre traficantes abalou a favela em 2006.
O mote da Copa Vidigal é “jogando pela paz”. O futebol seria um antídoto à violência, como costumam ser as atividades artísticas em tantas áreas de risco social. No entanto, o filme acaba denunciando uma contradição, na medida em que as rivalidades do torneio criam áreas de agressividade que por pouco não se mostram trágicas. A certa altura, o próprio Cypa é ameaçado de morte e tem de passar seis meses isolado com sua família dentro de casa.
Esse é apenas o clímax de uma atmosfera que oscila entre a euforia e uma tensão quase permanente nas imediações da quadra. O juiz é pivô frequente de querelas aguerridas. Os embates no campo geram discussões e porradas. Os jogadores xingam os adversários e suas torcidas com as piores ferramentas verbais. Cypa, pregador da paz e mestre da escolinha de futebol, é o primeiro a admitir que a “lei da favela” é diferente da lei do asfalto. “Aqui se respeita a lei porque se paga com a vida”, explica num misto ambíguo de crítica e elogio.
Além de Cypa, o filme tenta desenvolver outros personagens, entre os quais o bonachão Nélio, comerciante num ponto gay da praia de Ipanema. Mas o forte de Copa Vidigal, mais que os indivíduos e que a dramaturgia rala dos jogos, é a abordagem da favela nessa dialética difícil da guerra e da paz. A violência da competição será um simulacro pacificador ou uma perpetuação do clima de conflito?
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