Pílulas na rede 8

A incipiência da realização sub-amadora, a grosseria da representação dos estereótipos religiosos, a ausência de qualquer valor artístico nesse filmete INNOCENCE OF MUSLIMS só faz realçar uma coisa: como é fácil hoje em dia provocar uma grave crise internacional. Basta jogar uma merda dessas na rede e esperar o efeito sobre as mentalidades fundamentalistas. Tudo é cada vez mais tênue.

TROPICÁLIA reduz o “hoje” a uma ilustração do “ontem”, na medida em que desloca quase todas as falas atuais para o áudio, subjugadas à pletora de arquivos. Numa espécie de clipão dos pontos mais luminosos do movimento, o filme de Marcelo Machado emula até mesmo a estética tropicalista: remete as imagens do passado a uma estética do passado quando aplica videografismos baseados nos traços e cores da época.

Gostei à beça de CARA OU COROA. Ugo Giorgetti escreve muito bem seus personagens, situações e diálogos. Suas criaturas são de matizes políticos variados, mas nunca perdem a humanidade. O filme tem uma reconstituição de época pontual, mas precisa. E duas cenas são dignas de antologia: a “trepada” dos jovens às voltas com suas roupas e a cena em que o Otávio Augusto malufa lá em 1971. Não tem pra ninguém, Giorgetti é quem consegue melhor descrever São Paulo no cinema.

INTOCÁVEIS não é filme-mensagem, é filme-massagem. Mas é como uma sessão de massagem em que os procedimentos se estendem além da conta e você começa a ficar impaciente. Populista, servil aos clichês do choque cultural, inspirado em “história real”, tem tudo aquilo que o chamado público médio espera para sair do cinema de alma leve. Pelo menos não apela para mensagem de inclusão social nem para as vulgaridades da comédia popular francesa atual, o que já é alguma coisa. E os atores são ótimos.

Há tempos eu não ficava tão absorvido pela trama de um filme como fiquei com O MONGE. Dominik Moll narra de maneira clássica, mas muito eficaz, uma história de possessão num mosteiro do século 17. Antes de existir a psicanálise, tudo era uma questão entre Deus e o diabo. O mal penetra no santo padre através da cura e do alívio físicos. O corpo sara e o espírito se dana. O filme tem dois senões: devia ser falado em espanhol e carrega um pouco no melodrama nos últimos momentos. Mas é tenso, perturbador, e se resolve bem entre o realismo e o sobrenatural. E Joséphine Japy, benza Deus, é uma das meninas mais lindas desse mundo de pecados.

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