A Mostra Ver Ciência exibe neste domingo, dia 19, às 19h no CCBB-Rio, o documentário O Menino da Internet (The Internet’s Own Boy: The Story of Aaron Swartz). Trago de volta aqui o texto que publiquei sobre o filme durante o último Festival do Rio.
Este perfil do programador e ativista Aaron Swartz, que se suicidou aos 26 anos durante uma batalha judicial contra o governo americano, me fez pensar em três fenômenos da contemporaneidade:
- Os gênios da computação, sobretudo aqueles que se dedicam à defesa das liberdades na internet, são vistos – e até se veem – como novos messias, empenhados na missão de “fazer do mundo um lugar melhor”. Há algo além do ativismo em suas posturas. Há um quê de visionarismo, personalismo e disposição para o sacrífício. O frágil Swartz, em sua curta trajetória, tem componentes crísticos: a precocidade que o levou a discutir com os mestres adultos já aos 12 anos, a capacidade de multiplicar o acesso à informação (os novos pães), a detenção, a morte ainda na mocidade.
- Eles são também os revolucionários de uma parte do mundo que já deixou para trás as revoluções. Swartz evoluiu da recusa à escola formal para a rejeição do business e a contestação do governo pela via do hackeamento e difusão gratuita de dados usualmente vendidos na rede. Virou alguém tão perigoso quanto Edward Snowden ou Julian Assange. A diferença foi um histórico de depressão que o levou a sucumbir à ameaça de perda da liberdade. O filme de Brian Knappenberger se conclui com a costumeira elegia do herói.
- Temos um recente subgênero do documentário: o thriller informacional, que combina verbalização veloz e muitos textos na tela, deixando pouco tempo para o espectador assimilar ou refletir sobre o que ouve e vê. Isso replica de certa forma o ritmo do pensamento de seus personagens. Swartz criou uma pré-Wikipedia com cinco anos de antecedência, ajudou a sistematizar os RSS e o Creative Commons, criou uma plataforma para desenvolver políticas progressistas, combateu vitoriosamente uma lei destinada a cercear a circulação de filmes e músicas na internet e se indispôs contra o sistema de espionagem do governo Obama. Para fazer tudo isso em tão pouco tempo de vida, só mesmo vivendo em modo high-speed. O filme apressa o passo para enfeixar tudo isso em 105 minutos. É tão instrutivo quanto extenuante.