Quando os créditos finais apresentam os nomes de todos os membros da família Amato que protagonizaram CIGANOS DE CIAMBRA, a gente compreende a maior virtude do filme do ítalo-americano Jonas Carpignano. Não se trata apenas de ecoar o neorrealismo com o uso de atores não profissionais em seus cenários naturais. A façanha do filme é apropriar-se magistralmente de um senso de comunidade já existente e colocá-lo a serviço de uma ficção inspirada na realidade.
Os ciganos sedentários do bairro da Ciambra, na pequena cidade calabresa de Gioia Tauro, carregam o estigma de ladrões. A partir daí, Carpignano criou essa história de uma família que vive dos roubos praticados pelos filhos. O mais velho furta carros e o mais novo, malas de passageiros dos trens que param na estação. Este último é Pio, 14 anos, que quer ser aceito entre os homens adultos mas não passa de um garoto analfabeto que fuma, bebe e tem coragem. Ele se relaciona bem tanto com os mafiosos italianos quanto com os refugiados africanos residentes na região. A inocência, a imprudência e o senso de lealdade do menino estão no centro de um errático processo de amadurecimento.
Por um lado, uma grande impressão de autenticidade é passada pelo dialeto calabrês e a intimidade dos personagens com o lugar. Por outro, a ficção se ressente de um encaminhamento um tanto brusco e às vezes mal costurado. Algumas sequências oníricas ou simbólicas, dizendo respeito ao avô de Pio, me pareceram obscuras demais no seu sentido.
Uma câmera na mão, imagens nervosas, montagem vivaz e um excelente aproveitamento do colorido humano dos Amato valeram ao filme os prêmios David de Donatello (o Oscar italiano) de direção e edição. A produção reuniu o brasileiro Rodrigo Teixeira e Martin Scorsese (este na função de produtor executivo).
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