Experimentação artesanal no IMS

O GRANDE BIZARRO e O RETRATO DA ESCURIDÃO

A Sessão Mutual Films deste bimestre traz aos cinemas do Instituto Moreira Salles dois filmes muito distantes um do outro – geográfica e formalmente – mas com alguns traços em comum. As sessões paulistas foram na semana passada. As do Rio serão nos dias 26 de janeiro, às 17h (seguida de debate com os curadores Aaron Cutler e Mariana Shellard) e 29 de janeiro, às 20h.

O Grande Bizarro

O GRANDE BIZARRO (The Grand Bizarre), com 60 minutos de duração, é o primeiro longa de Jodie Mack, cineasta experimental e artista visual inglesa radicada nos EUA. Ela trabalha usualmente com itens do mundo do consumo, como cartazes, papéis de presente e circuitos eletrônicos. Nesse filme, Jodie tece uma vertiginosa tapeçaria de imagens usando produtos têxteis de vários países (sobretudo asiáticos) e aludindo ao tema da viagem. Talvez ela detenha o recorde de quem mais filmou padronagens de tecidos e tapetes na história do cinema.

A filmagem quadro a quadro gera uma animação reminiscente de Norman McLaren. Toalhas, saris, tapetes e tecidos diversos correm por vitrines, descem escadas, desfilam em varais móveis, giram em hélices, transbordam de malas, ou são inseridos em paisagens e retrovisores de veículos. Viagem e tecelagem são mais que uma rima na textura do texto têxtil de Jodie. Ela quer falar de globalização e alienação do trabalho na indústria, muito embora o que se concretize de fato na tela seja mais lúdico do que esses temas. O título brinca com o Grande Bazar de Istambul, um dos “acervos” explorados pela cineasta.

Nas imagens velozes, com momentos de forte estroboscopia, as padronagens e estamparias têxteis se revezam com outras referências gráficas como mostruários, mapas, globos terrestres, tabelas de alfabeto, tatuagens, partituras. Uma babel do mundo em trânsito incessante, repleta de som e ritmo.

O Retrato da Escuridão

A sessão se completa com o média O RETRATO DA ESCURIDÃO (The Picture from Darkness), do japonês Takashi Makino. Enquanto o filme da inglesa apoia-se na extrema concretude dos objetos para atingir piques de abstração, o de Makino refugia-se na quase total imaterialidade. Se o dela é frenético e expansivo, o dele é compacto e imersivo. Partindo de uma longa tela preta, Makino constrói uma dança de partículas que mudam de volume e cor, evoluindo para um clímax que sugere uma matéria infernal. Há duas alusões ao cineasta Derek Jarman: a passagem por uma tela de azul profundo – que remete a Blue – e o uso da música hipnótica de Simon Fisher Turner, compositor de trilhas de Jarman.

Uma coisa, porém, aproxima os dois filmes. A intensa experimentação praticada por seus diretores, com suas remissões a cineastas que os antecederam, sinaliza um retorno a práticas artesanais que andavam “fora de moda” no cinema digital e na era das imagens sintéticas. Vale a pena entregar-se a essas duas trips audiovisuais.

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