HONEYLAND em lançamento online
Um dos indicados ao Oscar de documentário deste ano, HONEYLAND despertou indagações sobre seu estatuto de “filme do real”. Na verdade, trata-se de um híbrido. De um lado, é um documentário bastante planejado e filmado com cuidados mais comuns em filmes de ficção: construção de cenas em campo e contracampo, iluminação pictórica de interiores, sequências visivelmente encenadas. De outro, alimenta-se no favo de um cotidiano captado com legitimidade evidente.
Afinal, questões como essas tornaram-se irrelevantes desde que Robert Flaherty filmou Nanook, o Esquimó, o primeiro grande híbrido. Dali em diante, acumularam-se experiências nessa fronteira, bastando lembrar A Alma do Osso, de Cao Guimarães, ou os documentários de “realidade inventada” do dinamarquês Jon Bang Carlsen.
HONEYLAND, de Tamara Kotevska, Ljubomir Stefanov, enfoca a rotina rústica de Hatidze Muratova, uma apicultora das montanhas da Macedônia do Norte que vive da venda do seu apreciado mel no mercado de Skopje, a capital. Um belo dia ela vê seu santuário natural ser invadido por uma família de apicultores gananciosos.
A dinâmica do filme se instala no contraste entre, de um lado, a solidão de Hatidze e sua velha mãe enferma, seu trato carinhoso e harmônico com a natureza das colmeias; e, de outro, a algaravia grosseira da família nômade, sua imprudência e comportamento predatório. A princípio, a boa mulher estabelece um vínculo de solidariedade e simpatia, especialmente com as crianças. Mas a interferência danosa dos novos vizinhos vai ameaçar a convivência.
HONEYLAND é uma parábola cativante sobre os vínculos profundos e sustentáveis do homem com a Natureza, em oposição à mentalidade puramente extrativista. Ao mesmo tempo, é o retrato de uma mulher isolada do mundo, mas cuja vida rudimentar não lhe retirou a doçura e o afeto. O último plano do filme nos revela que também os olhos de Hatidze têm a cor do mel.
Disponível nas plataformas Now, Vivo Play (GVT) e Looke.