A imagem que fala (21)

Mais algumas fotos acompanhadas de reflexões sobre o confinamento e os horrores dos nossos dias.

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Carlos Nader

“A foto que estou mandando mostra o interessantíssimo livro recém lançado, O oráculo da noite – A história e a ciência do sonho, de Sidarta Ribeiro, pareado com a projeção de Le tempestaire, de Jean Epstein, que a Cinemathèque Française está disponibilizando online em cópia restaurada. Foi uma dica do meu queridíssimo Carlos Adriano, um filme deslumbrantemente onírico que imagino certamente ser um dos que estavam na cabeça do Robert Eggers quando ele fez o também deslumbrante O farol. Eu escolhi essa imagem porque poucas vezes na vida tive, como nesta quarentena, uma sensação tão forte de que, como disseram de Calderon de la Barca ao sábio chinês, a vida é sonho. Só que desta vez eu estou torcendo para que muito em breve a gente possa dizer que o sonho acabou”. Itu, SP 


Victor Lopes

“70 dias confinado com Tomaz, 10 sem ele. A paisagem se repete no espaço, o olhar no tempo, na decupagem dos dias aqui dentro, lá fora, tudo muda. Cada céu, cada espelho, cada taco, tudo é feito de eternidade no peso da pandemia. Xeque mate no jogo da memória. A cada refeição eu conto uma história para o meu filho. Somos todos Sherazade. Video games e filmes pra fugir e voltar. Arrumamos a casa, batemos panelas. Genocídio, assombro, revolta. De madrugada, jogo o lixo fora na rua sem saída. Sinto o vento na cara, cada pedra, cada galho, cada casa longe, cada coisa que não pode ser dita, tudo é precioso na sombra da morte. Olho a rua que vou descer um dia, mais forte para outro mundo que vem aí. Estupefação, resiliência. Durmo tarde, sonho mais. Epicentro. Tomaz na janela, a saída da rua sem saída”. Rio de Janeiro, RJ


Emilia Silveira

“Hospedada com amigos fora do Rio, me esforço para manter o isolamento e, assim, contribuir, minimamente que seja, para conter a pandemia. Impossível se isolar da tristeza pelas vítimas e suas famílias e da revolta por pertencer a um país governado por fascistas, milicianos, despreparados e com compromisso com a morte e a destruição. Fora isso, sigo com quase tudo de que preciso para respirar: filmes, livros, um teclado para escrever, um telefone para matar a saudade. Uma nova vida aponta logo aí na frente mas os danos e o aprendizado dessa experiência nunca mais sairão da minha vida”. Araras, Petrópolis, RJ


Giba Assis Brasil

“Não sei lidar direito com câmeras, meu negócio é montar o que os outros fotografam ou filmam. Mas pensei uma semana sobre o teu pedido e taí a foto. Sem legenda, acho. Estou em Porto Alegre, fazendo o possível pra não enlouquecer – como todo mundo, suponho, a não ser os que já enlouqueceram”.


Gurcius Gewdner

“Algumas semanas antes da quarentena tive um problema na parede do quarto que danificou a tinta. Na primeira semana de isolamento, decidi dar vida a essas criaturas, substituindo os defeitos de tinta branca. Mumim, o gato que está em cena, é meu companheiro de todos os dias. Algumas cores acabaram antes de eu terminar, e decidi esperar até conseguir as cores que eu quero. Fazendo filmes estamos sempre lidando com a sombra de projetos inacabados, a vontade de ver eles ganhando sua forma final me ajuda a nunca desistir. Fazer filmes, fazer arte, é gostar de estar vivo, ver sentido em sair da cama”. Rio de Janeiro, RJ

 

8 comentários sobre “A imagem que fala (21)

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  6. Carlinhos, de repente me senti um tanto voyer por vir aqui, no teu blog, diariamente, olhar as imagens que postas e me retirar rapidinho, como se estivesse mesmo espiando a vida dos outros… Diminuo a minha culpa fazendo esta confissão: estou adorando as fotos e os relatos/títulos…

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