No último fim de semana, passei bons momentos sob os eflúvios de Machado de Assis. No Casarão Austregésilo de Athayde, ali bem perto de onde morava o “Bruxo do Cosme Velho”, um grupo liderado por Gisela de Castro está encenando – melhor seria dizer “degustando” – o conto Linha Reta e Linha Curva.
O espetáculo habita – não sem certa ironia carinhosa – os espaços externos e internos do casarão onde viveu o ex-presidente da ABL. A plateia, limitada a 40 pessoas, é tratada como visitantes de uma mansão do século 19, tendo a sua disposição até mesmo leques para afugentar alguma eventual onda de calor. A doce sensação de intimidade em tudo colabora para envolver o público na atmosfera do conto.
É do amor que se fala. Mas de um amor que finge se negar, se dissimula e se encorpa através de estratagemas – a tal linha curva. Restam, no fundo da taça, sinais de que, na paixão, tanto tecemos suas tramas quanto somos tecidos por ela.
A direção de Dudu Sandroni é feliz em respeitar letra por letra os diálogos de Machado, mas sem cair na pompa “literária”. O elenco – Gustavo Falcão (excelente, embora projete a voz além do necessário), Paula Sandroni, Gisela de Castro, Otto Jr., Gláucio Gomes e Paulo Hamilton – aproveita todas as deixas que a graciosa filosofia do texto oferece. E ainda há espaço para simpáticas citações de Roberto Carlos.
Esse é o tipo de peça que nos devolve um sentido lúdico e puro do teatro. Poucos recursos, muita sugestão e uma total sintonia com o sabor do texto original.
Para quem quiser curtir essa deliciosa piscadela do mestre Machado, a peça está em cartaz nas segundas e terças, às 15 horas, e nos sábados e domingos, às 17h30. Para reservas, use os telefones 8820-1600 ou 2556-5265. E apure-se, caro leitor, pois, ao contrário dos amores recíprocos, a cena começa pontualmente.