Semana dos Realizadores, vol. 3

Com um título tão ambicioso quanto muitas de suas imagens, BRASIL S.A. oferece uma leitura crítica do modelo de desenvolvimento adotado pelo país. E não cabe restringir essa crítica à situação contemporânea, já que a busca pela ordem e o progresso está na bandeira e na nossa história republicana, com ênfase especial nos períodos juscelinista e nos governos militares. O que embaralha um pouco a pauta de Marcelo Pedroso é a conjugação desse discurso nacional de longo prazo (a substituição do rural pelo industrial, do homem pela máquina, etc) com o ativismo atual contra a privatização e a verticalização dos espaços urbanos, particularmente em Recife. No fim das contas, o filme atira para tantos lados que se torna difícil precisar sobre o que está falando. Estão na mira, entre tantos alvos, o orgulho e a vaidade de um “Brasil grande” que se perpetua no tempo como sintoma independente, a terceirização da vida por uma classe média indolente e consumista, o eclipsamento da realidade pelo nacionalismo e o entorpecimento das vontades através da religião. Coesa ou não como manifesto, esta é uma peça cênica de grande impacto e suntuosidade, que abdica completamente do verbal e satiriza a grandiloquência da propaganda política e do audiovisual institucional. A trilha orquestral de Mateus Alves inunda o filme de ímpeto e ironia. Por fim, é curioso que Marcelo Pedroso tenha saído de três filmes de quase completa renúncia autoral (“Pacific”, “Aeroporto” e “Câmara Escura”) para um projeto de concepção tão controlada, milimétrica e coreográfica.

Há 32 anos Luiz Rosemberg Filho não fazia um longa. Sua produção vinha sendo de curtas em vídeo, colagens gráficas (veja alguns de seus postais-colagem nessa edição da Filme Cultura) e textos, estes geralmente indignados com a rendição do mundo – e do cinema brasileiro em particular – à mediocridade dos sistemas. Graças ao estímulo do produtor Cavi Borges, Rosemberg volta agora aos longas com DOIS CASAMENTOS, filme-performance modesto na produção mas ambicioso na enunciação. Passa hoje (quarta) às 19h na Semana dos Realizadores. De certa forma, é mais um manifesto do diretor contra o império das aparências, os sonhos pequenos de sucesso convencional e as “representações baratas da felicidade”. Duas noivas aguardam os noivos e convidados, que nunca chegam. Enquanto isso, a experiente Carminha (Patrícia Niedermeier) tenta convencer a bancária interiorana Jandira (Ana Abbott) a admitir que o casamento está “impregnado pela morte”, principalmente num “mundo governado pela demência” e num país “governado pela melancolia”. É Rosemberg puro, falando pela boca da personagem. Esse discurso é quebrado por rudimentos de dança e uma tentativa de sedução, sob o pretexto de que o amor homossexual seria uma quebra radical de convenções. É o que abre espaço para alguma nudez, elemento que, junto às falas inconformistas e às citações literárias, vem compondo o universo criativo do autor já há algum tempo. Entre os atos de vestir-se e despir-se, falar e escrever na pele, Rosemberg reitera sua voz de resistência ao naturalismo e à banalização do corpo.

Premiação da VI Semana dos Realizadores:

Júri oficial:
Melhor longa – ELA VOLTA NA QUINTA
Melhor curta – VERTIÈRES I, II, III
Melhor direção – curta SI NO SI PUEDE BAILAR, ESTA NO ES MI REVOLUCIÓN
Prêmio Nova Mirada – A VIZINHANÇA DO TIGRE
Prêmio Atitude Cinematográfica – NOVA DUBAI
Menção honrosa – curta KARIOKA

Prêmio ABD-RJ:
Curta VAILAMIDEUS
Longa BRASIL S.A.

Prêmio Edt (edição):
Curta NADA É
Longa BRASIL S.A.

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